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Lugar para ouvir a voz de quem quer partilhar...
Lugar para aprender e refletir com a experiência de outros como nós..
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​sobre relações...

Ana + Raquel

"Os sonhos são os mesmos de toda a gente. O caminho que se faz é que é diferente"

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​Há quanto tempo estão juntas?
Ana + Raquel -  Desde 2009.  Em outubro de 2009 começamos a namorar e a viver juntas desde janeiro de 2012. Casamos em outubro de 2012.
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Como é que vocês se conheceram?
A -  Conhecemo-nos numa reunião da rede ex-aequo, que é uma associação que ajuda jovens homossexuais. Eu já conhecia a rede há muitos anos, naquele sábado fui meramente por acaso a uma reunião cujo tema a discutir era o coming out..
R – E eu fui para tentar descobrir quem era. Basicamente, para tentar perceber se gostava de homens ou de mulheres... se aquilo que eu já desconfiava desde os meus 5 anos de idade se confirmava... porque é muito interessante nós termos a certeza de quem nós somos, mas se não estamos a jogar o jogo que a sociedade nos dita e não vamos corresponder com as expectativas dos nossos pais, dos nossos irmãos, dos nossos primos, tios, amigos e de toda uma rede social, isso fica para trás das costas... fica completamente...
A – Enterrado!

       "Se não estamos a jogar o jogo que a sociedade nos dita e não vamos corresponder com as expectativas dos nossos pais, dos nossos irmãos, dos nossos primos, tios, amigos e de toda uma rede social, isso fica para trás das costas... fica completamente e
nterrado!"

R – Num outro nível!  Nesse dia (da reunião),  fui ter com a animadora do grupo e fui muito clara: " É a minha primeira vez aqui e preciso mesmo de saber de quem é que eu gosto!" Eu precisava de ouvir qualquer coisa que me elucidasse, que me fizesse pensar. Claro que ela não me deu essa ajuda, ela não podia dizer: "Está aqui a solução". Acho que é assim que deve funcionar, tem mesmo de ser através de nós próprios. Fui à reunião para me tentar perceber... para constatar aquilo que eu já sabia, mas se calhar para aprender a aceitar isso com mais naturalidade. Foi quando conheci a Ana e percebi: “Ui, afinal não preciso de ajuda!”  (risos) É muito interessante porque eu fui numa de aprender... lembro-me de pedir à Ana para ela me passar livros, documentação online, literatura acerca da homossexualidade e da heterossexualidade  para eu perceber melhor como é que o ser humano funciona... mas quando é uma coisa tão natural e tão profunda em ti, algo que faz parte do teu ser, não há literatura nenhuma que te ajude e não há ninguém que te faça nenhuma luz na cabeça, tu sentes! Quando eu saí da reunião, despedimo-nos e quando eu estava a descer a rua senti “ Ai, eu vou namorar com esta rapariga!” Como é que é possível? Eu tinha entrado na reunião confusa e de repente... parece que por magia tudo começou a fazer sentido...

Qual foi a primeira impressão uma da outra? 
R - Manicura bem feita, muito gira, unhas pintadas de vermelho, uau! Espetáculo! Muito bem falante, com muita expressividade, tipo storyteller, com histórias maravilhosas e eu queria ouvi-la falar mais e mais...
A - Por mais cliché e ridículo que isto possa soar, eu pus os olhos na Raquel e recebi uma flecha do cupido em cheio no meio da testa, que estava lá, garantidamente, num canto daquela sala e tinha uma pontaria danada! Fui completamente arrebatada!  Entenda-se que o objetivo daquelas reuniões não é conhecer pessoas, é simplesmente debater temas e servir como auto ajuda. Durante anos fui aquelas reuniões e isto nunca me tinha acontecido! Eu nunca tinha conhecido a Raquel... tive todas aquelas sensações típicas de frio na barriga, ansiedade... nós estávamos num grande grupo e depois fomos divididos em pequenos grupos. E eu, que não sou uma pessoa propriamente crente, pedi a todos os santinhos e mais alguns para ficar no pequeno grupo onde a Raquel ia estar, e fiquei! Tive a sensação de que a minha manicura e a minha maneira de falar chamou a atenção e pensei: "deixa lá ver se eu puser aqui todo o meu espírito sedutor em ação, se resulta!”... (risos) e senti que sim, que estava a exercer algum tipo de  fascínio sobre aquela pessoa...e que ela estava a exercer também sobre mim! Quando me apaixonei pela Raquel, não lhe tinha sequer ouvido a voz...



                           "Há muitas pessoas acomodadas na sua relação.... porque dá trabalho ser feliz!"


O que significa para vocês ter uma relação? O que é mais importante?
R- O mais importante é a comunicação. É aí que se baseia qualquer relação. Onde não há comunicação, não há relação. Aprendi isto de uma forma muito boa porque a Ana é uma excelente comunicadora. Ajudou-me muito a comunicar e a exteriorizar os meus sentimentos, as minhas sensações... eu nunca fui boa comunicadora e se calhar herdei isso um bocadinho da minha mãe, que guarda muito as coisas e nada de falar! A Ana puxou por mim e eu percebi desde muito cedo que se eu queria que esta relação fosse para a frente eu teria sempre de falar a verdade, falar tudo e nunca esconder nada! Acho que a mentira ou a omissão é uma pequena fenda que se abre e, se deixamos crescer, depois não conseguimos meter o travão. Lembro-me perfeitamente de, mal começamos a namorar, eu ter  essa consciência, de querer que houvesse uma comunicação muito forte, acho que essa é a base...

 A -  Naturalmente, as relações, com a mãe, com o pai, com o irmão, com os amigos, com o companheiro ou companheira, qualquer relação, tem falhas... ou momentos mais frágeis e outros mais fortes... mas desde que estou com a Raquel, e pela primeira vez, experimento uma plenitude, um preenchimento tal que nunca mais tive a sensação de solidão. Não falo de solidão física, de estar só, falo de outra solidão... sei que seja o que for que aconteça, o que quer que tenhamos para enfrentar, e já tivemos algumas coisas, estou acompanhada, sempre senti a Raquel presente, em mim e nas situações, isso é fantástico porque eu acho que a solidão mata. Isto é estar acompanhado no verdadeiro sentido da palavra, é o que significa uma relação. Experimentei, noutras relações, não só amorosas, a sensação de estar só acompanhada e essa é a solidão mais terrível... valorizo muito a bênção que temos de podermos estar uma com a outra, isso fez-me despertar e ver à minha volta muitas pessoas que estão juntas mas profundamente sós... isso é muito assustador! Preservo muito o que tenho com a Raquel porque  acho que é realmente uma dádiva.
R – Também há muitas pessoas acomodadas na sua relação.... porque dá trabalho ser feliz!
A – Aquilo que a Raquel disse antes sobre a comunicação também é muito importante... eu também aprendi que se calhar é melhor não falarmos muito sobre as coisas e fingir que elas não existem, pode ser que passe! Aprendi isso em minha casa, na minha família. Depois de grandes dramas e situações complicadas pairava no ar algo do género: "Nunca mais vamos falar sobre isto”. Não é um pacto combinado, mas ele existe, ao ponto de quando se vê determinadas coisas na televisão, por exemplo, mudar de canal só para não dar aso a uma conversa. Só se conseguem ultrapassar as dificuldades falando sobre as coisas, pô-las no real para depois se poder decidir e andar para a frente. De alguma forma, “exigi” que a  Raquel também o fizesse na nossa relação e rapidamente aprendemos que a comunicação era a chave e falamos muito. Depois, somos duas mulheres portanto, obviamente, falamos imenso! ( risos)

Que modelos tiveram quando eram mais jovens? 
A – Por incrível que pareça eu só tive anti-modelos, igualmente úteis, mas anti-modelos. Às vezes não sei muito bem o que quero, mas sei muito bem o que não quero, por isso foram úteis. Modelos da falta de respeito pelo outro, de infidelidade, da falta de lealdade, da falta de companheirismo, da tal solidão acompanhada ou o modelo: "eu mando, e tu calas e fazes!".
R – Também é um bocadinho por aí... modelos em que não há um carinho, não há proximidade. Há ali uma distância que é kilométrica! Não vês nenhuma proximidade e aprendes com isso... ficas a pensar: "eu quando tiver a idade destas pessoas não quero ser assim, não quero estar nesta posição!" Relações em que as pessoas não falam, em que não sentes química nenhuma, é muito estranho... é muito raro encontrar um casal em que os dois construam uma relação de amor que seja feita nestas bases muito simples de amor, respeito e cumplicidade, de força, de estarem os dois a olhar para o mesmo horizonte.. porque as pessoas podem ser diferentes, como nós somos diferentes, mas ambicionarem objetivos muito idênticos.

Qual foi o momento mais marcante, até agora, na vossa relação?
A – Há vários! Obviamente, de diferentes níveis de intensidade. Para além do primeiro dia em que nos conhecemos, a nossa primeira viagem juntas ao estrangeiro foi um momento muito especial.Tínhamos praticamente acabado de nos de conhecermos e fomos conhecer o mundo juntas, foi muito bom. Também o sair de casa, quando iniciamos a nossa vida juntas, foi muito especial. E o dia do nosso casamento, claro. Nunca tinha vivido um dia com uma carga emocional tão grande, parecia que tínhamos entrado dentro de uma bolha de emoção, foi fisicamente exaustivo, foi de uma entrega brutal! E o momento, que eu não te consigo dizer exatamente o dia, nem nada disso, quando compreendemos e decidimos que queríamos ter filhos e começamos a trabalhar para isso...
R – Eu só acrescentava a primeira noite em que estivemos juntas! Foi mágico, foi muito bonito... 



 "Ninguém escolhe ser heterossexual ou homossexual, ainda assim, acho que muitos homossexuais, se tivessem essa opção, quereriam ser hetero. Porque ser homossexual torna muito complicado aquilo que para a maior parte das pessoas é absolutamente simples e garantido."


Quais os desafios particulares da vossa relação, sendo uma relação homossexual?
A - Se perguntares a vários homossexuais se, tendo a oportunidade de serem heterossexuais se o seriam, eu acho que a maior parte iria dizer que sim porque isto é difícil como tudo! Ou pelo menos foi, em determinada fase. O maior erro é chamar a isto uma opção sexual, isto não é uma opção, é uma orientação. Ninguém escolhe ser heterossexual ou homossexual, ainda assim, acho que muitos homossexuais, se tivessem essa opção, quereriam ser hetero. Porque ser homossexual torna muito complicado aquilo que para a maior parte das pessoas é absolutamente simples e garantido. É expectável que um dia tenhas uma relação com alguém, que cases e tenhas filhos. Tudo isto, que é o normal na vida da maior parte das pessoas, é para nós um bloqueio, um problema. Há pouco  dizíamos que os nossos modelos são anti-modelos porque a maior parte das pessoas que conhecemos não são felizes nas suas relações, e eu acho que é porque as pessoas não tiveram de se esforçar por isso. As coisas são muito garantidas. Nós tivemos que lutar por coisas tão simples como ter uma conta conjunta com os nossos dois nomes ou querer um quarto  no hotel e pedir uma cama de casal e ouvirmos: "...mas posso-vos arranjar uma cama separada se quiserem.."  Tens de estar atenta a tudo...e depois há coisas mais complicadas como a aceitação da relação no seio da tua família, no teu meio, no trabalho. Como tudo exige uma luta é desgastante, é difícil... se calhar, a maior parte das pessoas optaria pelo caminho mais fácil. Eu não o faria porque eu acho que ser homossexual contribuiu para eu ser uma pessoa forte, resolvida e feliz! Também sei que não é assim com todos os homossexuais porque somos todos diferentes e cada pessoa encara as coisas à sua maneira, mas no meu caso em concreto não mudaria nada, até porque é muito mais giro ir às compras com uma mulher! (risos)



          "Não podemos stressar demasiado com coisas que eventualmente podem acontecer, mas que não sabemos. Se assim fosse, os nossos projetos ficariam estrangulados à partida"

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Qual é o vosso maior projeto?
 A + R – Filhos! Alargar a família!
A - Esse é O projeto! E vai acontecer! Na sua essência é igual ao projeto de toda a gente que quer ter filhos. Sonhar sobre como é que vai ser quando nascer, ou o quartinho, como é que vamos decorar... Pensar: "Ana, não podes chegar tão tarde a casa porque quando tivermos filhos..." é igual a toda a gente, os sonhos são os mesmos de toda a gente. O caminho que se faz é que é diferente, mais complicado talvez, ou só diferente. Também há muitos casais heterossexuais que estão uma vida inteira  a tentar ter um filho e, por problemas de fertilidade ou outro qualquer, também têm de seguir caminhos mais difíceis...
R – Acho que há preocupações extra das quais só nos vamos aperceber verdadeiramente quando, e se, estas forem uma realidade. Por exemplo, na escola, falarem com a criança e dizerem que ela tem duas mães... mas agora as crianças também são gozadas por tudo e por nada, é preciso estarmos atentas. Depois é a família, é toda a parte social... mas a sociedade é assim, não sei se é medo ou covardia, as pessoas não te vão frontalmente perguntar sobre tu e outra mulher terem filhos... era melhor assim, mas é tudo indiretamente...
A – Aprendemos, necessariamente, para sobrevivermos a isto tudo, que não podemos stressar demasiado com coisas que eventualmente, mas que não sabemos, podem acontecer. Se assim fosse, os nossos projetos ficariam estrangulados à partida, porque começas a assustar-te e pões ponto final antes de teres conquistado as coisas. Portanto o pensamento é: "O que precisamos neste momento para o conseguirmos?" Adopção, inseminação,o que for, ok. Quando tivermos o bebé; "Agora estou com uma mastite, que posso fazer ? Vou tratar disso..." A seguir a criança vai para a escola: "Que escola? quem é a encarregada de educação?"...
R – É um dia de cada vez, tem de ser assim..
A – Dá-me uma certa segurança tudo o que já conquistamos só pelo simples facto de nos amarmos. São tudo coisas tão positivas que eu acho que o futuro será risonho, não tem porque não ser...

Que conselhos dariam a outras pessoas numa relação?
A – Eu só tenho conselhos cliché. Aqueles que as pessoas já sabem, mas que não fazem. Dediquem tempo, eu sei que temos de trabalhar e eu sou altamente worlkaholic... mas a Raquel é a minha primeira prioridade, tudo pode esperar. Mimem-se, sejam meigos, tenham tempo para uma surpresa! Eu adoro aquele tempo de preparação... não só  o tempo do programa, mas o tempo a pensar na pessoa e em como fazê-la feliz, não há melhor... E também: respeitem-se, peçam desculpa...
R – Falem! Se virem o namorado ou a namorada triste, perguntem porquê... Comuniquem, não guardem mágoas. Não deixar passar 24 horas! Não ir dormir com coisas a remoer...
A – Não se deitem zangados. Já tivemos as nossas discussões, mas nunca nos deitamos zangadas...claro que isso já implicou comer cereais às 3 da manhã, mas assim fica tudo arrumado!



               "Somos tão normais que até enerva!"


Como é o vosso dia a dia?
A – Nós somos tão normais que até enerva! Somos muito caseiras. A Raquel trabalha mais a partir de casa por isso quando eu chego ela geralmente já cá está. Agora estamos no ginásio, por isso fazemos um pequeno treino ao final do dia, depois voltamos e já temos o jantar orientado... jantamos, vemos um filme ou uma série, estamos ali um bocadinho no sofá ou simplesmente conversamos sobre o dia...falamos muito!
 
Distribuem tarefas?
A – Sim, sim,  foi tudo muito naturalmente definido... eu não limpo o pó, a Raquel não lava a roupa...
R – No início foi importante quando fomos viver juntas....perceber o que o outro não gosta de fazer, tentar arranjar logo ali um equilíbrio...também temos as nossas saídas, os nossos passeios, mas é um dia a dia muito comum...

O que gostariam de agradecer uma à outra?
R – Eu agradeço à Ana o facto de ela me motivar muito, de puxar por mim, agradeço por ela ser uma pessoa muito prática, eu aprendi com ela a ser uma pessoa mais prática, mais despachada, a não ser tão perfeccionista. Ajudou-me na minha personalidade, às vezes um bocadinho mais lenta... Agradeço todo o amor que ela tem por mim, toda a dedicação, todo o cuidado, o facto de se preocupar muito com a minha saúde, de se preocupar também com a minha família. Acho que isso também é muito importante, sentirmos que também a nossa família, que são as nossas raízes, têm essa atenção e preocupação, esse cuidado...
A – O amor. Há quem diga que o amor não se agradece, mas eu agradeço, claro que sim! À Raquel e seja lá a quem for que nos uniu, todos os dias. Agradeço ela ter feito de mim uma pessoa melhor, eu sou sem sombra de dúvida uma pessoa muito melhor por causa da Raquel... e tudo o resto que é tão importante; o cuidar de mim, o ter cuidado com o que eu como para não pesar 300 kilos! ( risos) Cuidar da minha saúde, olhar por mim, preocupar-se comigo e com a minha família também...
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sobre vocação...

Ramona

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O que significa vocação para ti?
 A vida!

E qual é a tua vocação?
 Eu acho que a minha vocação é estar viva! Estar viva para todos! Para mim e para os outros.
 
E em quê que isso se concretiza?
Concretiza-se, primeiro, em saber que tens uma vocação... eu não sabia que tinha. Era uma mulher com 25 anos quando tive o meu primeiro filho... tinha tido uma vida, até esse momento, de uma rapariga normal. Foi por causa de me meter na política que descobri que existia, que existia eu e que existia o mundo. Estudei turismo e história e acabou-se! Casei-me e tive 2 filhos, um rapaz e uma rapariga. Nessa altura estava no meu momento mais “mamã”, a ajudar os meus filhos com os trabalhos de casa, a levá-los a sítios  interessantes para que fizessem perguntas, tivessem curiosidade. Estava a tentar despertar neles tudo aquilo que eu achava importante. Essa era a Ramona da época em que descobri que era importante preocuparmo-nos com os outros e sentir a necessidade de estar ao lado do vizinho. Foi quando comecei a sentir algo que eu sempre tive... sempre fui uma defensora das causas perdidas! Acho que há um santo que é o defensor das causas perdidas, não me lembro qual é, mas sinto-me ligada a ele... na escola estava sempre com os “perdedores”... sim, acho que vou pela vida assim, como defensora das causas perdidas...
 
Essa é a tua vocação?
No fundo, acho que sim, defendo essa causa.. e vou à procura disso, ponho-me a jeito. A política foi o meu meio de viver isso. Eu entrei na política defendendo as mulheres. Em 1992 fui vereadora das mulheres em Espanha. Naquela altura, ser defensora das mulheres nem chegava a ser uma causa perdida, era quase um brincadeira, um engano.... olhavam para mim e riam-se, não me levavam a sério, mas bom...entre risos e brincadeira, ajudei muita gente! A minha primeira experiência em política foi criar uma associação de mulheres. Quando cheguei, não havia uma única dessas associações em Vilagarcia. E eu perguntava-me: "Então como se contacta com alguém?" Porque, claro, para que  se juntem 50 mulheres tem de haver pelo menos uma primeiro. Eu tinha todos os cursos do mundo, estava super preparada....então, alguém me perguntou: "Conheces alguma mulher que esteja metida na igreja, ou que lidere algum grupo..seja onde for?" E eu pensei: "bom.. alguém conheço". Liguei e perguntei se conseguia juntar 4 ou 5 mulheres no fim de semana. Respondeu-me que sim e perguntou-me o que íamos fazer :"Nada!" - respondi. "Convido-vos para um café, falamos de várias coisas, o que vos apeteça". Perguntou-me se eu pagava. Disse que sim. Nesse dia vieram 4, ali à câmara... eu tinha uma associação de mulheres de Santiago, preparada para trabalhar com elas, já nesse mesmo dia. Chegaram, falaram e eu paguei os cafés como Deus manda! Combinamos encontrar-nos no sábado seguinte.. Nesse sábado, já vieram mais umas quantas mulheres sem eu dizer nada! E então, por baixo da mesa, eu esfregava as mãos de contente... a partir daí, criei 18 associações de mulheres! 
 
E porquê uma associação de mulheres?
Porque como mulheres, unidas, podíamos fazer muitas coisas... inclusive, divertirmo-nos juntas! Podíamos criar um ambiente mais interessante para os nossos filhos, para encontrar postos de trabalho, para criar produtos de venda, ou para dinamizar, entre nós, qualquer atividade... podíamos fazer imensas coisas que nos pudessem interessar... não tinha porque ser eu a falar o tempo todo e no final ir embora e tudo aquilo acabar... não! Eu queria ir embora e que as pessoas continuassem, isso era o que me interessava! Essa associação começou a formar-se e eu deixei a de Santiago para que pudesse começar a trabalhar com esta. Iniciamos com um curso de congelação de alimentos! ( risos)  Mas o curso só se podia fazer às 8 da noite... e às 8 da noite os maridos não queriam porque era a hora do jantar, tinha que se fazer a tortilha! Isso era sagrado! E assim aconteceu a primeira rebelião das mulheres; o jantar teve de ser às 9h! Às 8 havia a reunião e saber congelar os alimentos era prioritário porque aqui toda a gente mata um porco e era preciso saber congelar bem a carne de porco porque senão estragava-se... e isso acontecia a muita gente! E aos homens interessava-lhes que a carne de porco não se estragasse e foi por essa razão  que deixaram as mulheres vir ao curso. Isto aconteceu nos anos 80 e qualquer coisa... Se me perguntares, como política, um momento que me marcou eu digo: este! Para mim, política é solucionar os problemas às pessoas! Se não, não faz sentido.
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Foste educada para viver a tua vocação?
Sim... eu tive uma educação curiosa..sou católica, não exerço. O meu avó era católico, mas não era apoiante de  Franco. E por isso o meu avô teve de dormir fora de casa muitas vezes. Mas era curioso, porque quem o vinha avisar para que dormisse fora era o padre da paróquia! A minha educação foi muito contraditória. Quando a minha avó e a minha mãe nos preparavam, a mim e aos meus irmãos, para irmos à catequese e depois à missa, quem nos levava era o meu avô e quando íamos pelo caminho ele perguntava: “Vamos à missa ou vamos ao parque?” e, porque a dúvida ofendia,  dizíamos em coro: “ Ao parque!” e íamos ao parque. Depois, chegávamos a casa e a minha avó perguntava ao meu avô se nos tinha levado à missa. “Sim!”... mas claro  que sempre  escapava a verdade a algum de nós....  foi muito contraditório, mas, ao mesmo tempo, muito respeitador... Eu acho que educação não é só dizer: “Não faças isso ou aquilo, ou porta-te bem” é um conjunto de coisas. É ir com o teu avô e com a vaca arar e agarrares -te ao rabo da vaca a morrer de medo porque pensavas: "Se a vaca me vê, que faço?”  mas como estava lá o teu avô, agarravas a vaca! Morta de medo mas continuavas a agarrar a vaca! E eu tenho pânico de vacas, porque têm uns olhos enormes e isso dá-me muito medo!  Mas agarrava-me ao rabo da vaca. Isto permite-te ter medo mas atrever-te! Ou seja, aprendes uma quantidade de coisas que não são “educação”, mas que são imprescindíveis para a tua vida.
 
Que querias ser quando eras criança?
 Hospedeira! Porque gostava muito do avião, da viagem. Deixei de pensar nos aviões e em tudo isso porque sempre adorei história. Acho que foi quando comecei o bacharelato que deixei de pensar nisso...  Com a história viajo muito melhor! Mais cómoda! (risos)
 
O que dirias a outras pessoas sobre vocação?
Que ou se tem ou não se tem! A vocação não é algo que possas acrescentar a ti mesma, ou tens ou não tens! É algo que a vida te dá, ou não te dá. Eu mesmo que quisesse arrancá-la de mim, não poderia.
 
E que pessoas admiras?
Durante muito tempo admirei Olaf Palme. Foi um político sueco, um socialista que foi assassinado à saída do cinema com a sua mulher. Eu acho que se neste momento Olof Palme estivesse vivo não estaria, por exemplo, a Angela Merkel onde está. Ele era uma pessoa de esquerdas. Alguém que pensava nas pessoas, não se vendia às empresas, ao mercado. Acho que não o fazia... talvez me engane, mas não me parece... não o via assim...
 

O que achas que podes trazer ao mundo,  aos outros?
A verdade! A verdade que, dentro de mim, com o meu pouco poder, posso oferecer. Eu acho que cada pessoa pode dar a sua verdade e eu posso dar a minha. Há sobretudo uma coisa que eu acho que as pessoas têm, que é a capacidade de fazerem com que acreditem nelas, que tenham a rara qualidade de que a sua voz ou a sua forma de se expressarem lhes dê credibilidade. Eu tento que as pessoas, no momento em que falam, não mintam a si mesmas. Eu procuro ser rigorosa com isso. Todos os dias ouvimos insultos e mentiras nos meios de comunicação. Que podemos pensar dessa pessoa que está a falar mal de outra? Todos os dias! Um dia é fulano e outro dia é outro e outra... e um dia em que esse homem diga uma verdade, tu vais acreditar? Eu não! Nunca vou achar que vai dizer nada sério. Não posso acreditar numa pessoa que está sempre a falar mal de tudo. Jamais confiarei numa pessoa que fala mal de todo o mundo. E em política fala-se mal de todo o mundo. E em política o que há que manter é o respeito por todo o mundo, inclusive pelo teu inimigo político. Isso é o que demonstra a categoria moral de uma pessoa.
 
Qual é o teu desejo para o mundo?
 O meu desejo é que as pessoas sejam capazes de pensar por elas mesmas.
 
E para ti?
​Algo bastante difícil nestes tempos... trabalhar e ser uma pessoa normal, com ideias claras. E a música.. aprender a tocar piano! E isso é o que tentarei fazer. Quem sabe consigo que outros políticos façam também algo positivo, se animem e aprendam também algum instrumento. Isso faria com que, talvez, se tornassem um pouco mais humanos.. Para mim a música vai ser como Valium, mas saudável, uma medicina natural... sim, vai preencher-me muito!
 

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Margarida

.O que significa "vocação" para si ?
A vocação, para mim, é um dom que as pessoas têm,  já nasceram para aquilo. Agora há outras maneiras mais modernas de saber,  mas eu vou pela moda antiga. A pessoa já nasce com aquela vocação. Dizia a minha mãe que a inclinação já nasce com a criatura.
 
E qual é a sua vocação?

A minha vocação?! Ora bem, o que eu mais gosto neste mundo é de me distrair, de me fazer bem, de receber as pessoas que me vêm ver, gosto de conversar! Nunca andei a estudar como vocês...olha, não é de dinheiro! Só quero ter dinheiro para aquilo que me faz falta, nunca fui ambiciosa. O que eu mais gosto na vida é de convívio, só estou bem com os filhos à beira. E de sardinhas, isso nem se fala!! (risos) Também gostava muito do bailarico. Gostava muito porque eu era muito alegre, não vês a minha cara ali? Estou sempre a rir! Tinha uns olhos que parece que riam e falavam! Toda a gente gostava de mim, como agora, toda a gente gosta de mim! Eu brincava com todos, ria-me com todos. Na pensão, coitaditos, eles  ( os rapazes) não tinham culpa, gostavam de mim porque eu era muito bonita, estavam sempre com brincadeiras comigo, com piadas. Eu aceitava aquilo tudo porque, claro, eles tinham razão, e eu não ia ser fedorenta!
 
​Acha que foi educada para viver a sua vocação?
 
Fui, sim senhora! Fui educada para ser aquilo que sou hoje. Eu não desperdicei nada! As minhas irmãs desperdiçaram muito, mas eu não. A educação que os meus pais me deram, guardei tudo! Sei-me apresentar, sei conviver com as pessoas. Só estudei até à 4ª classe mas, antigamente, era melhor que qualquer universidade!
 
Exerceu alguma profissão?
 
Sim, no princípio trabalhava numa empresa, na Riopele, ​era tecedeira. Mas ao segundo filho já vim para casa. Quando era nova, tínhamos uma pensão, Desde que saí da  escola nunca mais tive sossego, até hoje. Também já era muito mexida de mim, muito frenética. Lá em casa ia tudo à minha frente, eu punha tudo a andar! Só se chamava pela Margarida! O meu pai era comerciante, tinha a pensão e tinha carros de aluguer, era taxista....trabalhava muito, coitadinho. Ele ajudava na pensão, mas não tinha muita paciência. Na loja, tínhamos tudo; tanto quintal de bacalhau, tantos sacos de arroz, vendíamos por junto e  a retalho. A freguesia de Pousada caía lá toda. Ele matava dois e três porcos por semana para a pensão, a carne era tão boa!  A minha mãe ajudava. Também era uma pessoa muito inteligente, de muito trabalho. Ela é que marcava as diárias dos hóspedes; os montadores da Riopele, os eletricistas, caía tudo lá na nossa casa. Uns ficavam lá, outros, quando já não tínhamos mais quartos, dormiam noutro sítio, mas comiam lá na mesma. Era trabalhar até deitar lume pelos olhos! 
 
Se pudesse ter escolhido outra profissão, qual seria?
 
Professora! Quando saí da escola primária, quando fiz o exame da 4ª classe, o professor veio lá a casa pedir ao meu pai para me deixar ir para Braga,
mas como eu tinha de ir à segunda e vir ao sábado, não quis...não quis porque tive pena da minha mãe. Queria ser professora porque seu sempre adorei crianças, eu tinha essas ideias...

Quantos anos tinha nessa altura?
 
Tinha dez anos, antigamente só se entrava aos sete na escola. Na terceira classe o professor já me chamava para eu emendar os alunos da quarta. Ele virava-se  para os alunos e começava a cantar :” Vós não valeis um cigarro e a Margarida vale um charuto" Ele inventava ali umas coisas...  era muito cómico! Andava sempre mau e fazia um gesto com a língua. Quando o víamos a fazer aquele gesto era porque andava nervoso...mas tinha uma caligrafia! Nunca vi uma pessoa com uma caligrafia como a dele! Era dali de Joane, da família dos Bragas. Vinha a pé da beira da igreja de Vermoim, onde ele morava, para Joane! Pois após o meu exame, logo naqueles dias, eu fui à porta da loja e pensei para mim: “ parece que vem lá o Senhor Alexandrino” mas deixei-me estar. Quando ele chegou lá perto, eu atravessei logo a estrada e fui ter com ele, porque não era como agora: “ Sr. Dr., Sr. Dr.”, era : “ Senhor Professor, como está? Passou bem?”, antes era um respeito! Ele perguntou pelo meu pai e só me apetecia chorar...tinha pena de deixar a escola... 
​
O que diria a outras pessoas sobre vocação, que conselhos lhes daria?
 
O que digo a todos! As pessoas vêm queixar-se e pensas que eu deito lenha na fogueira? Que tenham paciência, temos de ter paciência. O papa Francisco não manda pagar com o bem o mal que nos fazem? Aquelas pessoas que andam perdidas, que não sabem o que querem, em que querem trabalhar, não sabem o que querem da vida, o que eu lhes digo é para tomarem tento! E para não serem ambiciosos, para serem bem comportados é o que eu digo e para viverem livres de vergonhas. Às vezes digo isso a algum filho, passo-lhes aqui cada sermão!
 
Até agora, na sua vida, qual foi a maior lição, a maior aprendizagem?
 
Aprendi a ser humana! A ser uma pessoa que, enfim, que não quer só o seu bem e o mal dos outros... aprendi a ser humana e a dar os mesmos conselhos às pessoas, para elas serem humanas também, para terem paciência. Foi a coisa melhor que eu podia ter aprendido!

Como acha que serve os outros, o mundo?
 
Eu queria fazer mais mas não posso! Se eu não tivesse tantos filhos, nem tanto a quem ajudar, digo-te: eu ajudava as pessoas de fora, isso ajudava! Qualquer coisa me sensibiliza, põe-me logo doente. Nem quero que me contem certas coisas!... Gosto de retribuir quando alguém faz alguma coisa por mim, porque sem retribuir não me sinto bem. Gostei de ter muitos filhos, sempre que nascia um filho cada vez gostava mais dele. Tratava-os muito bem, criei-os todos! 13! Foi este o repertório. Dei-os à luz, criei-os, eduquei-os, dei um curso a cada um, sozinha! O teu avô nunca me ajudou em nada porque o trabalho dele na fábrica era muito delicado. Ele era mestre tintureiro e eu não queria nem por nada incomodá-lo. Queria vê-lo sempre tranquilo, sempre contente. Os médicos dizem que eu que tenho um coração que faz admirar! E  tenho passado tudo na vida, coisas boas, coisas amargas. Aceito tudo conforme Deus me dá! E outra coisa; gosto muito do papa porque ele fala muito certo, ele é muito humano. Gosto muito das pessoas que são humanas, que gostam de ajudar. É um grande pecado se a pessoas têm possibilidades  e não ajudam, é muito covarde. ...

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Uma boa recordação...
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As desfolhadas do milho em Outubro! Os lavradores pediam às raparigas bonitas para elas irem desfolhar.. depois apareciam os rapazes e os caretos. Ninguém os conhecia! Eles de rapazes  e elas de raparigas, vinham pintados. Aquele bailarico nas desfolhadas era mais lindo! O meu pai não queria que a gente fosse e dizia: “Vocês cansadas de trabalhar ides agora para a desfolhada?!” Aquilo acabava meia –noite, uma hora. “Podeis ir mas de manhã, a pé! ”...Uma era numa quinta em Vila Mende, outra em Pousada...  quando nos arragavam lá, era uma alegria para a gente! Eles davam nozes, davam broa cozida em casa, davam vinho, enquanto nós íamos desfolhar. Eram umas boas horas, a desfolhar e a cantar e no final é que era o bailarico!

As canções...

 
“Olha o Quico, olha o Quico, olha o Zé /olha as moças da banda da Sé” e a “Laurindinha”. No fim fazíamos uma roda e cantávamos: “No alto daquela serra, está um lenço, está um lenço a abanar / está dizendo viva, viva, morra quem, morra quem não sabe amar!”  Depois apareciam lá com as violas e dançávamos o Malhão e o Vira... Tantas coisas lindas que não cabem... nem sei onde! Tanta coisa bonita! 

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Franco

O que significa "vocação" para ti?

É algo que diz muito ao nosso interior, a nós próprios. Algo que nos dá prazer e nos realiza. Aí é que reside para mim o essencial da vocação, qualquer que seja a área, o que interessa realmente é isso...
 
E qual é a tua vocação?

Acho que estou a descobri-la! Neste momento, através do zen shiatsu. É uma coisa muito recente, muito nova, mas não diria que é  única, porque há muitas áreas que me interessam. Foi sempre uma característica minha;  gostar de diversas áreas ao mesmo tempo, nunca ficar satisfeito em fazer só uma coisa... Mas o shiatsu, neste momento, está a preencher-me muito. Esta experiência já tem mais de um ano e está a ser excelente!
 
Achas que foste educado para viveres a tua vocação?
 
Não. Foi acontecendo...muito tardiamente. O shiatsu, em particular, foi ao longo dos anos... pequenos momentos em que sentia a necessidade de algo nesta área... O quê, como? Não sabia muito bem... mas ia e vinha, a par da minha vida profissional normal...
 
Como era a tua vida profissional normal?
 
Estou ligado à área da economia. Sempre trabalhei em empresas, na área administrativa e financeira, na gestão. Mas sempre tive, desde a faculdade,  vontade de fazer algo por mim próprio. Fui conjugando ao longo dos anos estes interesses todos. Foram pelo menos 18, 20 anos sem saber muito bem o que seria a minha vocação. Foi surgindo naturalmente, com várias tentativas diferentes, até que cheguei ao shiatsu.. Em poucos anos, foi-se concretizando. Primeiro apareceu a necessidade de algo ligado às terapias, talvez massagem... mas não estava ainda concretamente definido dentro da minha cabeça. Era uma ideia que vinha muito esporadicamente... e da mesma maneira que isso acontecia, o interesse que eu mostrava era pouco... pesquisava qualquer coisita, sobretudo na internet, se  não encontrava nada aquilo ficava encostado...
Estive muitos anos no mercado de trabalho, em diversas empresas, e vivi os momentos em que estas não aguentaram situações de crise e tiveram de reduzir os seus postos de trabalho. Estas empresas trouxeram-me alguma experiência profissional. A mais importante foi gerir uma pequena empresa industrial.... sempre a par  da vontade de criar qualquer coisa por mim. Depois essa empresa passou por um processo de falência, de dissolução. Encontrei-me no desemprego e aproveitei as oportunidades da altura, de criação do próprio emprego e tentei uma atividade...

E essa atividade foi...
 
Uma ideia pioneira que tentei implementar aqui em Portugal de serviços ligados à área dos automóveis, que é outra paixão que eu tenho. Só que entretanto, em 2008, surge a crise e eu estava no arranque do meu projeto. Não consegui transformá-lo em algo que me parecesse viável.. Por isso, antes que as coisas piorassem, pus fim ao projeto.
 
Em que momento te sentiste mais chamado para o shiatsu?
 
Fiquei novamente desempregado. Paralelamente à procura de emprego, voltei a sentir a necessidade de criar algo por mim, estava outra vez presente essa vontade. Não sabia o quê nem como, então, tal como procurava emprego, também procurava responder a essa pergunta. Nessa procura surgiram as primeiras escolas ligadas ao shiatsu. Comecei a pesquisar melhor esta área, sempre tive muito gosto pelo que era oriental, ia muito nesse sentido... Fui namorando o curso pelo menos mais um ano e depois tomei a decisão de me inscrever! Acabei o curso e começaram a surgir solicitações. Comecei a gostar cada vez mais, a divulgar, as coisas foram sucedendo e acabei por materializar este espaço que está a dar seguimento à ideia.

Podes falar sobre o zen shiatsu ?
 
O zen shiatsu é originário do Japão. Evoluiu a partir de técnicas de massagem com objetivos terapêuticos. Ou seja, não só de relaxamento mas também de bem estar, de saúde. O zen shiatsu é toda uma forma de prevenção, de evitar ficar doente. Não quer dizer que tal não venha a acontecer, mas seguramente não será com um impacto ou uma duração tão grande como quando não se faz zen shiatsu. Há aqui um cuidar base, quase como uma higiene diária, é nesse sentido... No Japão este aspeto está muito presente, eles têm essa sensibilidade...
No zenshiatsu, a massagem em si é feita sobre a roupa, à base de técnicas de pressão em que incluímos a sabedoria da medicina tradicional chinesa, nomeadamente no que se refere aos meridianos de acupunctura. Só que aqui, em vez de usarmos as agulhas, usamos a pressão dos dedos. Por outro lado, vemos não só o sintoma localizado, mas também a pessoa de um modo global. Quando estamos a fazer a sessão, não só tratamos aquilo que a pessoa nos comunica, mas também tentamos sentir o que, ao longo do corpo, precisa ser tratado naquele momento. Acho que é aqui que reside toda a beleza do zen shiatsu...

 
O que é que, no essencial, te faz gostar tanto de fazer zenshiatsu?

É muito simples! Saber que a pessoa entrou de uma maneira e saiu doutra completamente diferente. Tendo a pessoa consciência ou não, eu sei que nos dias seguintes, ou nos meses seguintes, ela vai estar muito melhor do ponto de vista do seu bem estar, do que quando entrou aqui... disso tenho quase a certeza!

O que querias ser quando eras criança?
 
Que engraçado... quando era criança nunca tinha algo muito bem definido. Enquanto aluno ia sempre ouvindo as recomendações dos professores, ia sendo guiado... Acabava sempre por me dirigir para as áreas sociais e económicas, era sempre por aí... tanto, que acabei por fazer o curso de economia. Aliás, é curioso perceber que essa área é excelente para formar empreendedores, criadores de ideias... então, eu olho para trás e reconheço que foi uma ferramenta imprescindível  em tudo o que eu tentei fazer ao longo destes anos...


O que dirias a outras pessoas sobre vocação?
 
Para não se precipitarem! ( risos) Para darem tempo ao tempo, mas para não deixarem de lado, como eu fiz... ou seja, eu podia não ter dado nunca seguimento a esta ideia... ela vinha e eu espreitava, ia explorando...via mais uma informação e se achava que servia, usava...  e se não servia, guardava. E não desistir. Insistir sempre! Para mim as coisas aconteceram neste sentido. Foi um trabalho contínuo, paralelo, sem me dar muito conta... só agora é que eu olho para trás e que realmente vejo que havia qualquer coisa que me estava a acompanhar, a acontecer, sem eu ter bem consciência disso naquela altura... Bom... e tentar! Tentar de forma cautelosa, sobretudo nesta fase em que estamos agora...
 
Como é que achas que pode servir os outros, o mundo, com aquilo que fazes?
 
O que vejo no zen shiatsu, neste momento, são muitas pessoas que ajudei, em menor ou maior grau... Já há muitas respostas positivas, muitas melhorias no bem estar, na saúde. Por vezes nota-se que há uma mudança de certas vidas, uma viragem... Não diria que a causa seja diretamente o zen shiatsu, mas nas conversas que vão surgindo percebo que há uma tomada de consciência... o shiatsu é uma ferramenta que anda a par com a procura de outras coisas... como uma vida mais equilibrada, por exemplo.
 
Alguma coisa que gostarias de acrescentar?
 
Neste momento, olhando para os anos anteriores ao inicio deste projeto, acho que o marketing, a gestão o social, o curso que fiz, me ajudaram muito... toda a parte da experiência profissional em si, o relacionamento com as pessoas, a vivência anterior de ter tentado já um negocio, a relação com o cliente... tudo isso se transformou numa bagagem acumulada que me está a servir agora. Sem me dar conta, estava a trabalhar para isto, para este projeto... para mim, especialmente!


Podem encontrar  o Franco aqui  e experimentar uma sessão de zen shiatsu !
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Guida

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"O que é  “vocação” para ti?"

"Essa pergunta é muito difícil! É uma palavra que me remete muito para a religião... e também para algo que as pessoas já sabem, desde muito cedo, que querem fazer na vida. E esse não é, de todo, o meu caso, nem sei se algum dia será! Claro que posso falar da definição da palavra; vocação como tendência para algo. Pode ser a tendência para algo que naquele momento me esteja a chamar, a motivar, a apelar, a despertar...mas vejo mais como algo que pode mudar a todo o  momento. Acho que o sentido é: o quê que me apetece fazer? E desse algo que faço, o que é útil? Útil não quer dizer produtivo, é útil na medida em que me enche a alma, que faz sentido... nem é bem fazer sentido, é mesmo encher a alma, porque, às vezes, aquilo que me enche a alma não faz sentido nenhum! É aquilo que me apetece fazer e pelo qual troco todas as outras  possibilidades que tenho na vida!  Pode ser uma coisa temporária, momentânea, ou pode ser algo que depois se repete ao longo de um tempo, determinado ou indeterminado..."

"E o que te preenche  a alma neste momento?"

"Aquilo que me enche realmente a alma, neste momento, e que eu acho que me enche a alma há muito tempo, é a curiosidade pelo mistério humano. Quem é o ser humano enquanto individualidade, não é enquanto definição massiva, ou filosófica, é de cada pessoa... o quê que aquela pessoa pensa e sente? Qual é a história dela? O que é que ela faz com a história dela?  O quê que a preenche? É mesmo uma curiosidade... sou muito curiosa!"

"Em quê que isso se concretiza na prática?"

"É uma amálgama!  No meu trabalho, naquilo que eu faço agora com muita vocação, que é a Biodanza, aquilo me chama é essa curiosidade de perceber o que é que está na vida dos outros, no mundo dos outros, no seu mundo interno... é uma forma de trazer o mundo interno de cada pessoa, que muitas vezes está no anonimato, fechado, e que é tão vasto, tão rico e único, trazê-lo para a luz! Trazê-lo para o palpável, para o visível, para a partilha, para o mundo, trazer isso para a vida, através da Biodanza..."   

"Podes explicar o que é a Biodanza?"

"Podia dar-te uma definição académica, mas gosto de definições poéticas! A Biodanza é uma grande aposta no ser humano para enriquecer ainda mais o mundo e a vida! Por isso é que eu me senti tão unida à Biodanza, porque vi nela algo que vai ao encontro do meu desejo de saber o que cada um de nós tem dentro de si e como o pode explorar. Como se fossemos um campo de cultivo muito vasto, que devemos cultivar sempre. A Biodanza foi uma identificação com um sistema que usa poderes “mágicos”! Como a música, por exemplo, que tem a capacidade de nos fazer viajar pelo mundo das emoções e da revelação. E o que é que eu faço com o que a música me traz? Movimento! Porque se eu não me movimentar vou continuar a ficar no anonimato, vou continuar a ficar na minha concha e toda a riqueza um dia se perde, porque nunca foi explorada e transformada. A Biodanza convida, através do movimento e da música, ao desabrochar de uma semente. A vida é uma dança constante! Que adianta ter uma semente que tem tudo, se nunca soubermos o que é que ela vai dar? A música e o movimento levam a estados de vivência e de expansão da consciência que nos permitem sentir: “Afinal, eu posso ir mais longe!” Sim, a Biodanza é neste momento a minha vocação, o que preenche o meu dia a dia, a minha vida, a minha existência! Para mim é como um casamento com a Biodanza!  É uma atividade que envolve muito movimento e que eu, com os meus movimentos limitados, estaria, à partida, fora de ação... ainda hoje, que eu saiba, sou a única pessoa com movimentos tão limitados a fazer Biodanza. E então surge a grande questão: Como é que se dá uma aula de Biodanza em cadeira de rodas?"

" Quando falo de ti, muitas pessoas me perguntam: " Biodanza não tem a ver com dança? Como é que se faz isso em cadeira de rodas?"

"Os meus próprios colegas se perguntam! Antes de entrar para a escola (de Biodanza) é necessário uma carta de motivação e o que escrevi foi: "Eu quero, posso e se me deixarem eu vou!" Acho que é a minha concepção de vida. Não estou a ver como é que eu poderia ser uma maratonista, por exemplo, ou uma desportista ou astronauta, na minha condição...mas não acho que isso seja um impedimento. Acho que há sempre uma solução, há mais impedimentos na mente! Eu gosto muito deste exemplo: estou cheia de fome e aquilo que acho que me vai saciar a fome tem de ser, obrigatoriamente, um arroz de marisco! Mas chego a casa e só tenho ovos, e então, como é? Tenho de mudar o meu foco, não pode ser um arroz de marisco mas pode ser uma omelete. Tudo aquilo que eu faço é para saciar uma fome interna, física, emocional... essa coisa da vontade, o que é? É uma fome, é uma vontade de comer, de ingerir, de trazer... e não tem de ser um prato gourmet! O importante é que eu fique saciada e isso acontece de muitas formas. Há que sair da limitação da competição, da comparação! São verdadeiramente tóxicas porque nos limitam ao máximo, pelo menos a mim, sim! Não gosto muito do "nós", porque pode haver outras pessoas que não pensam assim e a vida também rola de uma outra maneira... a vida é cheia de possibilidades e é infinita na sua abundância."

"Achas que foste educada para viver a tua vocação?"

"Acho que não quero refletir sobre isso! Humm... bom,  talvez sim. A conclusão é a de que todo o ambiente que eu tive, a minha infância e educação, me trouxeram até aqui. Pode não ser um percurso que sirva de receita para outros, mas para mim foi o ideal, foi aquilo que me trouxe aqui, então acho que sim, acho que a resposta é sim!"

"O que querias ser quando eras criança?"

"Não faço ideia! Muita coisa! Como todos, médica de crianças, era mais isso que aparecia nas minhas brincadeiras. Mas depois, na adolescência, ficou muito confuso. Nunca levei essa pergunta muito a sério, essa questão do que queria ser. Quando me candidatei à faculdade, queria ser estilista porque adorava roupa... e tudo isto nasceu porquê? Porque uma vez eu idealizei uns vestidos e uns meses depois vi-os concretizados num desfile na televisão. Achei que aquilo era um sinal e pensei: “Bem, eu devo ter vindo do futuro!” (risos) Enfim, eu sou muito imaginativa! E achei que aquela era a minha área, que era muito fixe e que deveria tentar. Mas o que era fixe não era desenhar, era ser criativa, era conhecer pessoas, era estar em movimento, era a arte... como não sabia desenhar e as escolas de estilismo eram caras, candidatei-me à Universidade do Minho em engenharia têxtil, achei que era a coisa mais próxima. Também porque queria sair de casa! Aquilo que mais me entusiasmou, durante esses 5 anos, foi morar numa residência universitária, onde havia muita gente e onde eu podia falar, conversar e ver em quê que as pessoas eram diferentes... era considerada a psicóloga da residência! Fizemos muita ação social, muita atividade, muitas brincadeiras, muitos eventos... eu e o meu grupo da residência, foi muito divertido! Acho que a minha grande vocação na vida é para tudo o que é divertido! Tem de ser tudo divertido!"

"Exerceste profissionalmente engenharia têxtil?"

"Não tive sucesso nenhum! (risos) Porque depois também veio a doença, o agravar da doença... essa é uma outra área, é uma área paralela na minha vida. Não me empatou nunca de viver. É como alguém que consegue viver e fazer o seu percurso, mas traz consigo uma pedra no sapato. A minha doença é apenas uma pedra no sapato que não me impossibilita de caminhar, mas que se calhar me impossibilita de correr e de subir escadas, de andar mas não de viver, nem de seguir os meus sonhos. Apenas me desafiou a buscar outras soluções. "

" Queres falar sobre a tua doença?"

"É uma distrofia muscular que tenho desde que nasci. Começou a manifestar-se de forma intensa aos 12 anos. A partir daí foi a decadência... há 8 anos que estou na cadeira e há 9 na Biodanza! A doença é como uma criança. Quando se é mãe nunca mais se deixa de ser, não é? Eu estou a tentar ver-me livre dela, mas a criança nunca mais cresce, ganha asas e vai voar para outro lado... mas vou conseguir! É como uma criança que desafia, que precisa de atenção, que limita o tempo, que limita todos os horários, fica tudo limitado por ela. Então, é preciso encontrar soluções, sem deixar de fazer aquilo que eu quero, mas dentro das condições possíveis. Eu não cheguei ao arroz de marisco, ainda estou nas omeletes! E pronto, está-se bem! Saciar a fome é o mais importante, porque é a base. A doença limitou-me na integração na sociedade porque temos uma sociedade preconceituosa, imatura, competitiva, egoísta, destrutiva, é uma sociedade muito doente. Não vou dizer que o mundo não tinha lugar para mim, nem faz sentido, mas é difícil... eu também não sou uma pessoa fácil, logo, fica ela por ela, estamos quites entre eu e o mundo! Mas a sociedade é muito preconceituosa perante tudo o que é diferente. A doença é um tabu enorme, muito mais profundo do que o dinheiro, o sexo, ou a morte. Sinto que a doença é vista como uma praga, algo horrível. Não que ela não seja feia, ela é! Mas há tendência para ampliar ainda mais essa característica, esse lado negativo..."

"O que dirias a outras pessoas sobre vocação?"

"Que cada pessoa possa seguir o seu coração, a sua vontade e o seu desejo! Sem medo de nada... não é sem medo, porque há sempre medo, mas com  coragem! Quando é para fazer uma coisa, 3 meses antes fico toda entusiasmada, mas depois quando chega o dia só penso em ter um acidente, ou ficar sem voz. Tudo para não fazer! E coragem não é não ter medo, coragem é ir com medo! É ir com o que se tem, é seguir o coração, seguir a vontade. Para mim é a coisa mais deliciosa que há, quando há aquela tendência, vocação é isso, não é? É um apaixonar, é essa inspiração divina...é ir! O resto é muito pessoal, cada um vai encontrar a hora, vai encontrar o seu ritmo, vai encontrar a sua forma. Uns são muito direitinhos, outros são muito caóticos, não há receita! Não é muito apaziguador, mas é muito livre!"

"Como achas que podes servir os outros, o mundo?"

" Percebi que isso não existe, é um verbo que não existe, o que existe é partilhar! As coisas são partilhadas como num piquenique. Eu falo disso muitas vezes na Biodanza. É uma partilha, é como um piquenique, eu levo aquilo que eu fiz com muito amor e carinho e coloco na mesa, se alguém quiser, é bom! Se ninguém quiser também é bom, volta para casa, tranquilo. É um verbo que eu retirei... esta coisa de ser útil ao outro... não tenho vontade nenhuma de mudar o mundo, acho que o mundo é fantástico, acho que o mundo é um paraíso! Adoro viver, adoro a minha existência e adoro as pessoas, adoro as árvores, adoro tudo... mas posso melhorar! Posso melhorar-me! Acho que o maior desperdício é aquilo que fica em mim e eu não partilho, porque acaba por apodrecer. Porque aquilo que está em mim, eu não consigo comer!"

Podem contactar a Guida através de gamaguida@hotmail.com ou no facebook  e experimentar como é partilhar a vida através da Biodanza!
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Renata

"A vocação não tem de ser um conceito muito limitado, vai mudando à medida que nós também mudamos. Os nossos interesses vão mudando e a vocação vai evoluindo com isso. Mas, essencialmente, é fazer aquilo que gostamos, em que sentimos prazer e que nos preenche. Para mim, vocação é acordar de manhã com entusiasmo, meter mãos à obra e chegar ao final do dia com  uma sensação de dever cumprido, independentemente do que se tenha feito. Fazer, o que quer que seja, com amor! E que nos faça felizes!"

 " Sabes qual é a tua vocação?"

"Estou a aprender e estou a evoluir, já passei por muitas fases, neste momento sinto que a apicultura, principalmente o contacto com a natureza, me preenche, é o  que mais gosto de fazer, neste momento..."

"O que há, na apicultura, que te faz gostar tanto?"

"O que mais me chamou, inicialmente, foi o contacto com a natureza, a calma, a serenidade que aquele contacto me trazia e que eu percebi sentir falta... gosto muito de plantas, gosto muito do campo. Fiz uma formação, que adorei, sobre plantas medicinais. Falou-se sobre permacultura que é, no fundo, deixar a natureza seguir o seu próprio ritmo, interferindo o menos possível. Porque hoje, infelizmente, o homem está a destruir o planeta! A permacultura foi um tema que me despertou, que me fez pensar. Falou-se muito em abelhas, na sua importância para os ecossistemas, na polinização, e no declínio que estão a ter, também por culpa do homem! Cada vez mais tudo é processado, pouco natural. Hoje em dia tudo cresce com rapidez e com a ajuda de químicos! Aquilo interessou-me, comecei a tentar aprender um pouquinho e fiz uma outra formação. Na altura aprendi muito, muito mesmo! Mas senti que a abordagem sobre a apicultura era muito convencional. Para mim, faltava alguma coisa, faltava uma vertente mais natural. Entretanto, comecei a ter contacto com outras pessoas mais orientadas para essa vertente e que faziam formação. Comecei a frequentar e senti que isso me dizia mais, que tinha mais a ver comigo."

"Mas o quê que quando estás lá ( a fazer apicultura) te faz sentir: “ Eu gosto mesmo de estar aqui! "? O quê que acontece contigo?"

"O que acontece comigo é que eu quando estou lá, estou lá! Não penso em mais nada, estou simplesmente.... estou presente! Também porque podemos influenciar muito pouco, ou devemos influenciar o menos possível, e isso é uma aprendizagem que eu estou a conseguir! Tentar influenciar o menos possível para deixar, no fundo, a colmeia fazer o que faria quase no estado natural...ou o mais aproximado possível. Como viste, não uso químicos, as abelhas fazem o próprio favo, não reutilizo as ceras e tento interferir o menos possível."

"O que querias ser quando eras criança?"

"Não me lembro, mesmo! Acho que nunca tive assim uma grande aspiração, não pensava sobre isso...sinceramente, só me lembro daquelas ideias de muito pequenita, de querer ser astronauta, cabeleireira...Ah! Lembro que, quando era criança, gostava muito da terra, gostava muito de brincar nos meus avós, de brincar no meio dos campos! "

“Qual era a tua disciplina favorita, na escola?”

"Era sempre na área do desporto... se calhar  porque me sentia mais livre..."

“Que pessoas admiras?”

"Neste momento, as pessoas que admiro mais são aquelas que têm coragem de enfrentar os seus medos e seguir em frente com algo que gostam realmente. É isso que eu mais admiro...não é propriamente uma pessoa, mas uma qualidade...pessoas que têm a coragem de mudar o rumo da vida, por uma paixão! " 

“Achas que foste educada para viver a tua vocação?”

"Os meus pais sempre me deixaram livre para fazer a escolha que quisesse. Não fiz a escolha certa! A minha formação académica foi na área da contabilidade e gestão e hoje sei que não foi uma decisão acertada, porque nunca me motivou. Aliás, nunca trabalhei nessa área e nunca senti o apelo, sequer, de procurar algo mais aí..."

“O que dirias a outras pessoas sobre vocação?”

"Acho que diria para não pensarem muito e para não se preocuparem muito...acho que diria para tentarem fazer o que gostam, nem que seja como um hobby... e se conseguirem conciliar as duas coisas e fazer desse hobby uma profissão, excelente!"

“ Como achas que podes servir os outros, o mundo, com o que estás a fazer?”

"É engraçado, porque eu sinto que o produto final, que é o mel ou o propólis, o produto final da colmeia, não é o mais importante. O sentimento de estar a contribuir, de alguma forma, para um planeta mais limpo, mais equilibrado, mais saudável e tentar transmitir isso às pessoas que contactam comigo, principalmente às crianças,  é o que gosto mais, sinto que é mais importante...tento incutir-lhes sempre respeito e amor pela natureza, porque quanto mais nos afastamos, mais tendência temos a sofrer com doenças ou a não nos sentirmos tão em paz."

"E quais são as aplicações práticas dos produtos das tuas colmeias?"

"O pólen fornece vitaminas, minerais, proteínas e outros elementos para o bom funcionamento do organismo. Pode-se  comer...tem uma imensidão de propriedades, para fadiga, depressões...mas não é muito fácil, porque é muito amargo! É incrível, como de algo tão amargo, as abelhas fazem algo tão doce como o mel!  O própolis é antibacteriano, anti-inflamatório, é um antibiótico natural, para infecções respiratórias, da garganta...e a cera de abelha tem propriedades cicatrizantes e anti-inflamatórias para a pele. Estou a usá-la para fazer sabonetes! A pele é o nosso maior órgão e muitas vezes nós não cuidamos dela como deveríamos!"

Podem contactar a Renata através de meldeguimaraes@gmail.com e beneficiar das muitas aplicações práticas da sua vocação!
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José

“A vocação para mim é um chamamento a exercer uma determinada atividade prazenteira, em que eventualmente a pessoa se possa realizar, ser feliz no que faz e talvez conseguir os meios de subsistência. Quando consegue tudo isso, o indivíduo é feliz. Se, por acaso, não conseguir os meios de subsistência mas já os tiver, ou por fortuna pessoal, ou porque alguém lhe abona esses meios, então, ainda melhor! "

“Qual é a sua vocação?”

“A minha vocação?! Ora bom, eu comecei por ter uma determinada vocação, fruto do meio em que vivia, que era um meio religioso, muito conservador. A minha mãe era muito religiosa. O meu avô andava muito pela igreja e eu acompanhava, portanto, tive um chamamento para o sacerdócio. Não sei se foi natural, espontâneo, se foi fruto das circunstâncias em que vivia. A meio do caminho, falhou! Alguém responsável percebeu que eu não tinha realmente vocação para aquilo e mandou-me embora! E eu hoje, à distância, digo que essa pessoa acertou em cheio, porque realmente não era a minha vocação! Se tivesse seguido, hoje seria provavelmente cumpridor, mas infeliz e frustrado. Depois veio a vida prática, no trabalho por conta de outrem, para angariar meios de subsistência, para viver...Eu nunca tive, propriamente, a possibilidade de encontrar a minha vocação! Eu aceitei aquilo que me apareceu e que era mais favorável para mim, para os meus intentos económicos, para a minha vida. Felizmente encontrei um bom emprego; trabalhei numa das melhores empresas industriais do país, mas não era aquilo que eu procurava...Aceitei aquilo que me apareceu, não foi uma escolha pessoal, nem tão pouco aquilo que eu desejava para mim."

“ E o que desejava?”

"O que eu desejava para mim, talvez o tenha conseguido entender depois de sair da vida prática e entrar na reforma. Eu não gosto muito do trabalho em grupo...gosto do trabalho solitário, muito ensimesmado, muito solipsista! (risos) Gosto de trabalhar sem pressões, sem pressas ...o que eu gostaria, eventualmente, era de um trabalho de investigação, provavelmente na minha área, das humanidades, filosofia, talvez a escrita. E gostaria de fazer trabalhos para outros, portanto, trabalhar nos bastidores sem ir para a ribalta, está a perceber? Eu não gosto muito da ribalta, gosto de um trabalho quase de monge..."

“Afinal, havia  alguma ligação com o sacerdócio...”

"Não, não! Monge, mas sem essas obrigações, sem todas as exigências que os sacerdotes têm! Uma vida absolutamente normal. Apenas não seria normal neste aspeto: estar muito isolado, a viver muito a minha vida interior, a minha vida solitária...Agora faço mais o que gosto sem pensar na parte material, porque tenho a reforma, que me suprime essa necessidade. Já não há nada que me obrigue à procura de um trabalho para sobreviver, então, dedico-me aquilo que realmente gosto, tardiamente...No meu tempo de trabalho, também tive momentos em que fiz aquilo que gostaria, ao ponto de ter trabalhado gratuitamente, mas era pontual. Eu fui aceitando o que a vida me trouxe...isto tem muito a ver com a filosofia de Nietzsche; aceitação da vida tal como ela é! E foi isso que eu fiz: aceitei! E cumpri de tal maneira, com tanto empenho e rigor que até parece que foi a minha escolha! Por isso, defino-me, em termos simples, como um "rebelde disciplinado”; rebelde porque não era aquilo que eu desejava para mim, mas disciplinado porque cumpri e aceitei como se tivesse desejado. Sem eu ser um seguidor de Nietzsche, parece –me que vivi a filosofia dele! (risos)

“ O que queria ser quando era criança?”

"Não tenho nenhuma memória particular sobre isso, só me lembro que a partir de uma determinada altura fui  orientado para o seminário, quase fui empurrado! E depois não pensei muito...só quando me disseram: “Tu não serves para isto”, é que eu pensei sobre o assunto. Mas fiquei com a disciplina e criei hábitos que ainda hoje são muito úteis na minha vida. Mesmo quando já estava no trabalho, aceitava e fazia o melhor que podia, mas também criava auto-defesas; a minha vida não se esgotava ali, e fui fazer um curso que queria: Filosofia. Eu saía de um mundo de imposições, de disciplina, de regras e de fazer o que outros mandavam, para realmente dar largas a uma nova vida! E isto acontecia no mesmo dia; uma parte do dia era de obrigação e a outra de devoção (risos). Isto dava-me um certo equilíbrio, era uma tensão de opostos; de um lado sou obrigado do outro sou livre...e isto fazia-me viver o dia-a-dia o mais tranquilo e o melhor possível."

“O que o faz gostar tanto de filosofia?”

"O mundo das ideias é o mundo que gosto, que me interessa. A política, por exemplo, não me interessa, mas as ideias que estão subjacentes, sim. Ainda hoje sou capaz de apreciar as ideias de muitos filósofos. Já quem as exercita, quem vai para a praxis, nem sempre me agrada, às vezes até acontece o contrário, fazem-me afastar. No entanto, eu sigo uma filosofia muito própria, concordo com uns numa coisa, mas noutra já não concordo, é uma grande salada...sem nunca desviar da minha vida os dois valores mais importantes; verdade e justiça! Também gosto muito de música! Nos momentos de lazer, é um dos hobbies em que me instruí. Na minha formação inicial estudei música, gosto imenso de ouvir música coral, acompanhada pelo órgão ou pela orquestra, adoro! Também de tocar, embora não sendo especialista..."

“ O que diria a outras pessoas sobre vocação?”

"Eu diria era que, se puderem seguir aquilo que intimamente desejam, que é a sua inspiração para se realizarem, serem felizes e garantirem a sua subsistência, sigam em frente. Se não puderem, têm de fazer, possivelmente, como eu fiz: aceitar aquilo que aparecer para sobreviver e, dentro das suas possibilidades, ir atenuando essa imposição da vida com aquilo que realmente gostam; ou estudando, ou arranjando hobbies que os distraiam e em que possam apreciar a beleza da vida..."

“ Algum momento de referência na sua vida?”

"Tive momentos em que afirmei a personalidade, inclusivamente contra tudo e contra todos, quando vi algumas injustiças. Tive de participar dos meus chefes e, claro, assumir as consequências. Os valores mais importantes na minha vida são a verdade e a justiça e quando outros valores chocam contra isso, não gosto! Tive chefes que, para serem bons para outros, eram injustos comigo. Para mim, a justiça tem de prevalecer sempre."

“Que pessoas admira?”

"Gosto de muitos tipos de pessoas diferentes. Aprecio as pessoas que têm a força e coragem para serem o que são! Todas as pessoas  que não se vendem, que são iguais a si próprias...tive a experiência disso no trabalho; para singrar, não cedi a deixar de ser eu próprio. Se o tivesse feito, talvez tivesse conseguido mais resultados práticos! Mas não o fiz. Fui o que fui e estou feliz!"

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Joana

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"Vocação? Acho que é a partir da vocação que nós decidimos aquilo que somos, ou aquilo que vamos fazer. A vocação é um chamamento, é quase uma missão, é sentir que tenho uma missão no mundo, que tenho algo que posso oferecer a alguém.  É a partir daí, dessa descoberta da vocação que nós decidimos grande parte daquilo que vamos fazer, porque o que vamos fazer é uma consequência daquilo que somos. É uma descoberta daquilo que somos para sabermos, depois, como é que vamos expressar isso ao mundo, o que é que vamos oferecer ao mundo! Eu associo muito a vocação à missão, no fundo, que temos aqui na Vida, na Terra, no Mundo..."

"E já sabes qual é a tua vocação?"

"Bem, se calhar, a minha vocação é descobrir qual é a minha vocação! (risos) Eu acho que estou aqui um bocadinho à descoberta daquilo que eu sou, daquilo que eu gosto de fazer... depois, através das minhas experiências, quero poder levar ensinamentos, poder levar aquilo que eu aprendi, a outros...não sei se será essa a minha vocação...mas, pelo menos, aquilo que eu gostaria de descobrir nesta vida é como é que eu posso ser eu própria e como é que eu posso ser feliz... e como é que eu posso ajudar outros a descobrirem como é que vão ser felizes! Não sei se é essa a minha vocação, mas é o que eu gostaria de fazer..."

"Em quê que isso se concretiza, o que estás a fazer? Conta um bocadinho do teu percurso..."

" Eu acho que sempre gostei de ensinar! Acho que, agora, aquilo que eu ensino é um pouco diferente, mas sempre gostei de transmitir aquilo que aprendia. Quando era mais novinha, sempre que apanhava alguém em  casa, um amigo ou um familiar, a primeira coisa que eu fazia, e talvez porque fosse uma coisa que eu gostava muito de fazer, que era fazer música, tocar piano, a primeira coisa que fazia era tentar  levar a pessoa até ao piano e perguntar: ”Não queres aprender esta música?” Eu achava aquilo tão bom! Eu queria levar esse "bom" às pessoas. Eu achava que aquela pessoa ia ter imensa vontade, como eu, de aprender aquilo. No fundo, a primeira coisa que tinha tendência a ensinar, era aquilo que eu gostava de fazer, era aquilo que me trazia algum bem-estar, alguma felicidade. Segui o piano e acabei por me tornar professora de música. Na altura da faculdade, senti o "bichinho" de fazer algo mais com a música... no 9º ano, tive muita dificuldade, falando hoje sobre vocação, em descobrir o que é que eu gostaria de fazer, estava entre a música e a psicologia. E lembro-me que sofri com a pressão da sociedade. Acho que, para a sociedade, ter sucesso é ter um bom emprego e é ganhar um bom dinheiro!  Sentia que havia algum desrespeito pela música. Tinha nível cinco a todas as disciplinas e sempre que eu falava na música, ouvia: "Mas tu tens tão boas notas, porque é que não vais para médica?” Eu não podia ver sangue à frente! Mas a ideia das pessoas  é esta!  Para mim, sucesso é ser feliz, é conseguir ser feliz nesta vida, isso é que é sucesso! É conseguir adaptar-me com aquilo que eu tenho, conseguir pôr uns óculos em que consigo ver tudo belo e sentir-me grata com o que tenho, isso é que é ser feliz e é ter sucesso! Mas acho que vamos fugindo disso..."

"Foste educada para viver a tua vocação?"

"Não, não! Não quero culpar os meus pais, nem dizer que eles não fizeram um ótimo trabalho, mas não, continuo a dizer: nós somos educados para ter sucesso e ter sucesso é ter dinheiro! E ter um bom emprego! Não somos educados para sermos felizes, para sabermos lidar com o nosso interior, para sabermos lidar com as nossas emoções. Isso não existe! Existe a parte, acho eu, só do conhecimento, conhecimento, conhecimento! Que depois se torna um conhecimento que muitas vezes cai num vazio...cai num vazio porque as pessoas têm o conhecimento, mas elas não sabem quem são, elas não sabem porque estão num determinado caminho, ou até numa determinada área na universidade, e porquê que estão. Não sabem se estão para não desagradar aos pais, ou por culpa... e tudo isso faz com que vão tomando opções que nada têm a ver com o seu coração, com o seu interior. Não somos realmente educados, a sociedade, a escola, não nos ajuda nisso. Os pais são pressionados, também, pela sociedade, para que os filhos tenham sucesso, e o sucesso vê-se em boas notas, não se vê na criança estar bem, comunicar bem , estar feliz, expressar-se...mas talvez isto mude! Talvez com a psicologia e com técnicas como a meditação, por exemplo, isto vá mudando e as pessoas comecem a perceber e a sentir que direção querem tomar...sem culpas, sem medos!  Acho que é por aí..."

"Algum episódio curioso ou marcante, na tua caminhada?"

Um momento importante foi na universidade, quando tive contacto com uma disciplina chamada psicologia da música. Falaram, na altura, na musicoterapia e eu pensei: “Isso existe? Musicoterapia? Eu posso usar o som? Existe mesmo uma disciplina, algo cientifico, estudado, em que o som ajuda as pessoas? Há uma disciplina em que eu posso usar música e psicologia? E isso, tinha tudo a ver com a minha história. No final do meu curso, decidi procurar onde fazer musicoterapia. Achei o máximo, as duas coisas que eu sempre gostei,  juntas numa mesma disciplina! Acabei por ir para o Rio de Janeiro fazer o meu curso de musicoterapia, aí  foi outro momento de viragem...Em todo o meu percurso, até terminar a universidade, eu sentia que tinha que cumprir aquilo, que eu tinha que fazer um curso e que tinha de ser até ao fim! A partir daí, foi como se eu se eu sentisse uma certa liberdade! A partir daí pensei: “Pronto, agora eu sou livre,  já fiz aquilo que era suposto!” Quando fiz o curso de musicoterapia, acho que foi aí, nesse momento, que eu percebi que nada tinha feito, ainda, para me conhecer. Na primeira aula do curso, a nossa coordenadora disse-nos: “Se vocês querem ser musicoterapeutas, vocês têm que entrar em terapia." Toda aquela viagem ao Rio de Janeiro, tudo aquilo que eu tive de ultrapassar, de descobrir... Eu não fui lá buscar só o conhecimento da musicoterapia, eu fui lá buscar o conhecimento de quem é que eu sou! Acho que aí eu mudei os óculos, pousei os que tinha e disse: "Ok, agora vou ver tudo de outra perspetiva...porque agora vou saber, no fundo, quem é que eu sou, o que é que eu quero, com liberdade!"

O que te faz sentir realizada no que estás a fazer, agora?

 Sinto-me realizada quando ensino algo, ou transmito alguma coisa que tenha a ver com a minha experiência, com aquilo que eu aprendi. Faço essa transmissão, passo esse ensinamento, e sinto que isso vai ser como uma “luzinha ao fundo do túnel", na vida de uma pessoa, num determinado momento! Eu gosto de despertar, eu sou um bocadinho desafiadora...gosto de mexer com as pessoas. Gosto de provocar, desafiá-las: “Será que é mesmo assim? Será que tu gostas mesmo disto? Será que estás a fazer isto porque tu queres? Eu gosto de provocar isso, com todo o amor, para que a pessoa faça realmente escolhas conscientes e vá fundo no processo dela. Não sei se é exatamente a minha vocação, mas é onde me sinto realizada... a transmitir aquilo que me faz bem, transmitir aos outros, para ver se eles, também, querem decidir ser felizes!"

"O que dirias a outras pessoas sobre vocação?"

Eu diria, primeiro, para se conhecerem a eles mesmos, para fazerem retiros, meditação, qualquer técnica que funcione, para estarem em silêncio. Estar em silêncio e escutar qual é a voz interna, qual é o tal chamamento...Tem de haver esse silêncio, não é um desligar do mundo externo, mas sim uma aproximação daquilo que eu sinto realmente, para poder escolher, de forma mais consciente, qual é o caminho que eu quero seguir, acho que eu diria isso...E diria também para as pessoas não pensarem nas coisas como algo que é fixo, definitivo...as coisas vão mudando...Tulku Lobsang diz: “Sejam como a água”, a água é suave e fluída...ela vai vendo qual é o caminho...Sejam como a água e, sempre que vier alguma coisa para a nossa vida, não rejeitemos...se ela chegou, chegou por alguma razão...e tudo aquilo que tiver que ir embora, porque também nós, muitas vezes, somos apegados, queremos agarrar algo que já não faz falta, que já não é bom para nós...tudo aquilo que tiver que ir embora, deixar ir!  Acho que isso é um bom princípio; não rejeitar nada daquilo que vem, ver o que eu posso fazer com isso. E aquilo que tiver de ir embora, deixar ir...para o novo entrar!

Podem encontrar a Joana aqui!
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Bruno

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“Vocação? Para mim a vocação é algo que existe mesmo, não é uma ideia abstrata, ou assim tão abstrata quanto isso! Eu acho que há mesmo pessoas que têm uma aptidão especial para fazer determinadas coisas. Há os que são muito expressivos com as mãos  e que depois se tornam artistas plásticos, outros que não têm habilidade para nada e vão para atores, como é o  meu caso! (risos ) Estou a brincar, mas acho mesmo que há uma vocação. Às vezes, só encontramos muito tarde...algumas pessoas muito tarde, outras demasiado cedo! Mas é algo que sim, que existe mesmo. Embora não seja o estritamente necessário para se ter sucesso em alguma coisa! Vocação não significa sucesso, nem significa que tu vás fazer, ou que faças bem essa coisa para a qual tens vocação, se não a treinares, não é?"

“O que sentes que é a tua vocação?”

“ A minha vocação?! Se calhar ainda não descobri! (risos)...sinto-me atraído pelas artes, em geral...mas mesmo em geral!...Se bem que eu depois não tenho nenhum talento especial para a música, nem nenhum talento especial para as artes plásticas, embora goste muito e até goste, às vezes, de fazer, mas depois só sai assim; “borrada”! (risos) Então, a única coisa que parece que faço mais ou menos, ou que depois se concretiza e se torna um objeto interessante, é ao nível das artes performativas, mais especificamente no teatro. Mas eu sinto-me atraído por fazer todo o tipo de arte; desde o vídeo à dança...mas depois, claro, eu canalizo isso tudo num objeto só, que é o teatro...”

“ Sentes-te realizado com isso, agora?”

“Sim, sim!”

“ O que querias ser quando eras criança?”

“ Quando era miúdo queria ser biólogo marinho! (risos) Eu gostava muito de ver, via sempre, aqueles documentários da BBC e da National Geographic na televisão e adorava poder fazer aquelas investigações, aquelas excursões todas ao fundo do mar...estar naquelas jaulas a ver os tubarões a passar! Tenho sempre essa ideia...era uma das coisas que eu gostava...depois não..depois cresci!"

“Como é que foi o teu percurso? Conta um bocadinho da tua história...”

“Com 15 anos fui estudar teatro, para o Porto. Eu acho que isso aconteceu de uma forma muito natural...acabou por ser quase uma passagem de testemunho, mas muito natural, não foi nada imposto! O meu pai também era ator, o meu irmão também se formou em teatro... de facto era uma coisa que sempre gostamos de fazer, sempre nos atraiu muito, a qualquer pessoa lá em casa... à exceção da minha mãe que não queria que nós fossemos, porque sabia as complicações da arte, dos artistas...mas eu acabei por, aos 15 anos, decidir que, de facto, também queria fazer isto! Gostava muito, sempre me senti atraído... O meu percurso começou no Porto, a formação começou lá...depois fui fazer uma especialização em Paris...e depois a coisa foi-se desenvolvendo...estive em vários sítios do país a trabalhar, noutras companhias...até que de repente decidi montar o meu próprio projeto porque, não é que não goste de andar a saltitar, eu até gosto de ser nómada mas... eu quero falar pela minha boca! Então, há objetos e há coisas que eu quero concretizar, que tenho mesmo de ser eu a pensá-las..."

“ O quê que no teatro te faz sentir “gosto disto!” O quê que te atrai , porquê que estás a fazer isto?”

“Hum...aquilo que de facto me atrai é uma coisa...eu acho que qualquer artista sente isso...é a forma como nós conseguimos comunicar, expressar o nosso universo. Um universo muito próprio de cada artista, de cada um de nós...porque nós expomo-nos muito nas obras que produzimos, há uma exposição tremenda! E o mais interessante é como as pessoas aceitam como somos e ainda por cima gostam disso! E no final aplaudem o nosso universo! (risos) Há artistas que se calhar não são tão aplaudidos porque as pessoas não gostam tanto do universo! (risos)...Estou a brincar! Não, gostam sempre...somos tão diferentes, não é? E é interessante como é que, por exemplo; a sociedade ruma num sentido que é o de estandardizar as pessoas; de repente nós somos todos iguais, somos tratados de forma igual por todos e é interessante como o indivíduo artista se consegue afirmar, consegue afirmar o seu universo perante um conjunto de pessoas que, ao vê-lo, aceita-o e gosta daquilo que ele faz! Por exemplo, no meu caso, sentam-se... é muito curioso isto...sentam-se, vêm todos a uma hora específica, sentam-se nas cadeirinhas, cem, duzentas pessoas, para ver um artista ou vários artistas em palco e o seu universo ali...para mim é muito curioso todo este ritual! O que me faz de facto feliz é isso, é perceber como cada um de nós é aceite pela sua individualidade...
Com os bobos da corte acontecia algo parecido...quando havia bobos da corte era preciso que que o rei e toda a corte aceitasse  a sua presença...ele ia entrando devagarinho, ia dizendo coisas...estamos a falar a um nível extremo, mas também acontece agora...é mesmo muito sensorial, não é algo óbvio em que dizemos: "não aceito este ator, ou este músico, ou este artista" , mas isso sente-se!” 

“ O que dirias a outras pessoas sobre vocação?”

“Não sei...acho que não vale a pena procurar muito, que as pessoas não têm de procurar muito a sua vocação...às vezes, quanto mais se procura...eu acho que têm de fazer aquilo que realmente se sentem bem a fazer, em que são felizes, não é? Eu acho que é isso, que é a combinação dessas coisas, uma coisa que nós gostamos de fazer, que somos felizes a fazer, por exemplo; se eu pinto muito mal (e isso é muito relativo) mas sou feliz a pintar, se calhar a minha vida passa por fazer isso mais vezes....se calhar devo aperfeiçoar essa arte. Se eu sou feliz a fazer uma determinada coisa, devo apostar nela, acho que essencialmente é isso...acho que é como tudo na vida...se não formos felizes a fazê-lo... Acho que a vocação é isso, é fazer algo que nos sentimos felizes a fazer e depois explorar..."

“Alguma coisa curiosa que queiras contar sobre o teu caminho, na procura, ou a viver a tua vocação?”

“Sim...é que eu estava a aqui a falar de felicidade, de sermos muito felizes...e estava a lembrar-me das vezes em que eu também não fui feliz a fazer aquilo que gosto. Ou seja,  este discurso é muito giro; “ devemos ser felizes a fazer aquilo que gostamos”, só que nem sempre isso acontece. Claro que, depois, quando acontece, toda a felicidade vem de uma vez só! Mas o discurso é muito poético e nem sempre somos felizes a fazer aquilo que gostamos. Estou a lembrar-me de muitas vezes em que, no meu percurso escolar e profissional, me senti frustrado... mas também acho que devemos guardar apenas os momentos que nos fazem felizes e em que nós de facto ficamos contentes com o resultado. Guardar isso como exemplo e esquecer os maus...se bem que os maus fazem parte da história! Portanto, eu queria colocar aqui uma sombra sobre este discurso, muito poético, que estava a desenvolver! (risos)...nem sempre as coisas são cor-de-rosa...”

Podem encontrar o Bruno aqui e conhecer o seu projeto!
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Sylvie

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“Vocação? Já estive a pensar nisso, no que é a vocação, mas de facto não sei! (risos). Penso que não é uma coisa fixa, que muda desde que somos pequenos até grandes, está sempre a mudar consoante a nossa evolução interna e externa e tem a ver com muitas coisas. Não posso dizer que a minha vocação  quando tinha 6 anos é a mesma de agora, nem da que tinha há 20 anos atrás, não tem nada a ver...de facto, eu nem sei bem o que é a vocação! O que é a vocação? É aquilo que nós queremos?!”

“O que sentes que é, neste momento, a tua vocação? "

“ Neste momento acho que tem mais a ver com prevenir doenças através de uma alimentação o mais saudável possível... tem a ver com  tentar encontrar maneiras de fazer isso. Mais para os meus filhos, tentar criar alicerces para eles crescerem mais saudáveis, melhores, sem terem vergonha dos colegas. Mas se isso é vocação, não sei, vocação de mãe, talvez!”

“O que querias ser quando eras criança?”

“Acho que primeiro queria ser enfermeira, mas depois rapidamente percebi que não tinha um "sentido de cuidar muito bem das pessoas", continuo a não ter, sou uma péssima enfermeira! (risos) Em casa é tudo para o pai! Mais tarde percebi que era boa a línguas e, portanto, fui mais nessa direção. Pensava: "vou ser tradutora"! Continuo a ser, mas se isso agora é a minha vocação ou paixão principal, já não sei bem...acho que não, acho que agora já me estou a dirigir para outros lados...”

“ E que lados são esses?”

“O da alimentação...tentar que nos sintamos bem recorrendo o menos possível a medicamentos e a médicos. Também as terapias alternativas, métodos de cura diferentes...está tudo a dirigir-se para um plano que eu há 20 anos atrás nem pensei que existia e que na altura até me podia ter dado jeito para ajudar certas pessoas, se eu tivesse sabido mais cedo... Naquela altura isso nem entrava na minha cabeça..ou entrava e saía logo..."

“ Foste educada para viver a tua vocação?” 

“Tive sempre todo o apoio naquilo que eu queria fazer e que fiz. Os meus pais deram-me sempre toda a liberdade e as oportunidades para fazer aquilo que eu, na altura, queria. Nunca puseram nenhum entrave, sempre me ajudaram nesse sentido. Neste momento estão a achar que estou a virar para um lado um bocadinho mais esquisito (risos), já não estão a entender muito bem o caminho que estou a tomar neste momento...também têm uma educação diferente, são de uma época diferente..."

“E na escola, fazias alguma atividade que trabalhasse a vocação?"

“Não, que eu me lembre, não...só mesmo as aulas e pouco mais além disso...não sei se neste momento já está a ser diferente nas escolas, mas na altura não. Também não havia nada extra-curricular relativamente a isso, que eu me recorde...mas já foi há muito tempo..."

"Qual era a tua disciplina favorita na escola?”

"Línguas, sim...francês e grego antigo, no secundário adorava! O resto era porque tinha de ser..."

“Posso saber um bocadinho mais da tua história até hoje?...vieste da Holanda..."

"Bom...talvez saber porquê que eu escolhi português, não é? Também não sei bem, mas se calhar teve a ver com uma fase em que eu tinha, mais ou menos, 14 anos. Vim com a minha família de férias a Portugal e houve alguns rapazes que me disseram qualquer coisa que eu não percebi. Também respondi alguma coisa que não percebia muito bem e eles começaram a rir.  Eu não fiquei nada bem com isso e acho que lá no fundo pensei ”um dia hei-de perceber o que é que vocês disseram! ” Também não gosto muito de espanhol e de italiano, são línguas que muito mais pessoas estudam e falam. O português pareceu-me mais exótico, diferente e original! Mas o primeiro mês foi horrível... queria fugir! Passado esse mês, foi paixão total, que nunca mais desapareceu! Fui passando tempo em Lisboa, em cursos de verão e depois vim para o Porto estudar, conheci o meu marido e nunca mais regressei à Holanda!"

“Que pessoas é que tu admiravas quando eras mais nova?"

"Sempre admirei muito a minha irmã...ela já faleceu...pela força de vida, pela vontade de viver que ela tinha, sempre a admirei. É difícil falar dela...não sei se consigo continuar a falar..." 

“ O que dirias a outras pessoas que se debatem com este tema?"

"Seguir o rumo...não pensar muito em ideias fixas, mas sentir mais o nosso interior e tentar perceber o que está bem para nós. Não ouvir muito o que as outras pessoas dizem porque o que pode estar bem para elas, o que pode ser uma coisa boa para os outros, pode não se adequar à nossa situação, ou ao que nós sentimos que devemos fazer, ou que queremos fazer...é mesmo seguir o nosso próprio rumo e deixar fluir! Não é fácil porque as nossas famílias, as pessoas com quem estamos todos os dias ou gostamos muito, as pessoas que nos educaram de certa forma têm as suas expectativas relativamente a nós e é difícil largarmos essas expectativas e seguirmos o nosso próprio caminho...não é fácil, mas acho que é importante...também é algo que se tem de aprender. Nós aprendemos todos os dias, não há nenhum dia igual! Todos os dias são uma dádiva. Às vezes aprendemos e nem estamos conscientes disso...mas cada dia é uma evolução, penso eu...e nunca sabemos qual será o resultado final! "

Também podem encontrar a Sylvie aqui
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Ricardo

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"Vocação? Podemos estar aqui a falar uma manhã inteira, praticamente...porque tenho 41 anos de idade e podemos remontar aos tempos de escola, do secundário, quando temos que decidir o que queremos ser quando formos grandes! Até mais cedo que isso, na primária já temos que definir mais ou menos o que gostamos, ou o que queremos ser..."

" O que sentes que é a tua vocação?"

"A minha vocação? Sinceramente, acho que é o contacto com o  público, eu adoro estar com as pessoas, lidar com pessoas. De que forma ainda não consegui perceber completamente. Acho que ainda estou numa aprendizagem contínua, mas, sem dúvida, já consegui perceber que gosto de lidar com pessoas, gosto de ajudar as pessoas, se puder. De que forma também não sei, eu estou mais ligado à saúde, por isso penso sempre que é pela via da saúde, mas ainda não está bem definido."

"Sentes que estás a viver a tua vocação agora?"

"Estou numa aprendizagem, ainda estou em fase de crescimento... ainda não estou  minimamente a sentir que estou no auge, mas para lá caminho... sim, estou no caminho certo!"

"Foste educado para viver a tua vocação?"

" Se falarmos nas instituições e naquilo que realmente nos ensinam durante a vida toda nas escolas, acho que se faz muito pouco trabalho nessa base. Acho que esse tipo de despertar devia ser muito mais trabalhado em termos das instituições. Devia haver, inclusivamente, pessoas especializadas para conseguir "tirar" o que de melhor há nas outras pessoas, de maneira que elas não errem e sejam felizes no futuro...isso é mal trabalhado. Tanto é, que eu estou nos 41 e já passei por vários empregos!"

 "Sentes-te realizado com o que estás a fazer?"

"Sinto, porque felizmente agora estou com um projeto que é meu, estou a trabalhar para mim. No entanto, a felicidade não é completa  porque ter um projeto próprio tem outro tipo de responsabilidades... estamos a vivê-las agora, especialmente em altura de crise...."

"O que querias ser quando criança?"

"Médico. Sempre fui bom aluno, com boas notas, sempre foi medicina. Aliás, a minha mãe é uma pessoa que gosta muito de saúde e  de alimentação saudável e ela própria sempre quis um médico na família, então apostou em mim.. também, sou filho único! (risos) E eu concorri a medicina, só não entrei porque depois decidi que não era a minha vocação, precisamente. Vi um vizinho meu a ter um ataque de epilepsia e assustei-me. Achei que não tinha sangue frio. Um médico tem de tomar decisões importantes de diagnóstico e de ação rápida e achei que poderia não ter o sangue frio necessário, que poderia não ser essa a minha vocação. Então fui para aquilo que achava mais natural; química e depois ciências farmacêuticas." 

"O que dirias a outras pessoas que se debatem com este tema?"

"Já trabalhei em laboratório e sempre que eu tinha estagiários e me perguntavam, por exemplo: “o que é que eu posso fazer, ou o que é que vai ser o futuro?”, eu sempre dei uma indicação que penso ser útil. Eu dou sempre este conselho, penso que é válido, digo sempre: tentem ter, ou estudar para, uma profissão que vos permita ser freelance, para a qualquer altura poderem trabalhar por conta própria. Até um médico pode ser um bom freelance, se quiser. Eu acho que este é um conselho bastante válido...isto para pessoas que ainda não têm bem definido o que querem fazer. Devem tentar fazer algo que lhes permita trabalhar por conta própria, porque hoje em dia acho que as pessoas só podem ser felizes assim, não estando dependentes só dos outros, para arranjar um trabalho."

Podem encontrar o RICARDO aqui e conhecer o seu projeto de vida saudável!
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