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Guida

4/26/2015

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Vozes

Guida

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sobre vocação...
"O que é  “vocação” para ti?"

"Essa pergunta é muito difícil! É uma palavra que me remete muito para a religião... e também para algo que as pessoas já sabem, desde muito cedo, que querem fazer na vida. E esse não é, de todo, o meu caso, nem sei se algum dia será! Claro que posso falar da definição da palavra; vocação como tendência para algo. Pode ser a tendência para algo que naquele momento me esteja a chamar, a motivar, a apelar, a despertar...mas vejo mais como algo que pode mudar a todo o  momento. Acho que o sentido é: o quê que me apetece fazer? E desse algo que faço, o que é útil? Útil não quer dizer produtivo, é útil na medida em que me enche a alma, que faz sentido... nem é bem fazer sentido, é mesmo encher a alma, porque, às vezes, aquilo que me enche a alma não faz sentido nenhum! É aquilo que me apetece fazer e pelo qual troco todas as outras  possibilidades que tenho na vida!  Pode ser uma coisa temporária, momentânea, ou pode ser algo que depois se repete ao longo de um tempo, determinado ou indeterminado..."

"E o que te preenche  a alma neste momento?"

"Aquilo que me enche realmente a alma, neste momento, e que eu acho que me enche a alma há muito tempo, é a curiosidade pelo mistério humano. Quem é o ser humano enquanto individualidade, não é enquanto definição massiva, ou filosófica, é de cada pessoa... o quê que aquela pessoa pensa e sente? Qual é a história dela? O que é que ela faz com a história dela?  O quê que a preenche? É mesmo uma curiosidade... sou muito curiosa!"

"Em quê que isso se concretiza na prática?"

"É uma amálgama!  No meu trabalho, naquilo que eu faço agora com muita vocação, que é a Biodanza, aquilo me chama é essa curiosidade de perceber o que é que está na vida dos outros, no mundo dos outros, no seu mundo interno... é uma forma de trazer o mundo interno de cada pessoa, que muitas vezes está no anonimato, fechado, e que é tão vasto, tão rico e único, trazê-lo para a luz! Trazê-lo para o palpável, para o visível, para a partilha, para o mundo, trazer isso para a vida, através da Biodanza..."   

"Podes explicar o que é a Biodanza?"

"Podia dar-te uma definição académica, mas gosto de definições poéticas! A Biodanza é uma grande aposta no ser humano para enriquecer ainda mais o mundo e a vida! Por isso é que eu me senti tão unida à Biodanza, porque vi nela algo que vai ao encontro do meu desejo de saber o que cada um de nós tem dentro de si e como o pode explorar. Como se fossemos um campo de cultivo muito vasto, que devemos cultivar sempre. A Biodanza foi uma identificação com um sistema que usa poderes “mágicos”! Como a música, por exemplo, que tem a capacidade de nos fazer viajar pelo mundo das emoções e da revelação. E o que é que eu faço com o que a música me traz? Movimento! Porque se eu não me movimentar vou continuar a ficar no anonimato, vou continuar a ficar na minha concha e toda a riqueza um dia se perde, porque nunca foi explorada e transformada. A Biodanza convida, através do movimento e da música, ao desabrochar de uma semente. A vida é uma dança constante! Que adianta ter uma semente que tem tudo, se nunca soubermos o que é que ela vai dar? A música e o movimento levam a estados de vivência e de expansão da consciência que nos permitem sentir: “Afinal, eu posso ir mais longe!” Sim, a Biodanza é neste momento a minha vocação, o que preenche o meu dia a dia, a minha vida, a minha existência! Para mim é como um casamento com a Biodanza!  É uma atividade que envolve muito movimento e que eu, com os meus movimentos limitados, estaria, à partida, fora de ação... ainda hoje, que eu saiba, sou a única pessoa com movimentos tão limitados a fazer Biodanza. E então surge a grande questão: Como é que se dá uma aula de Biodanza em cadeira de rodas?"

" Quando falo de ti, muitas pessoas me perguntam: " Biodanza não tem a ver com dança? Como é que se faz isso em cadeira de rodas?"

"Os meus próprios colegas se perguntam! Antes de entrar para a escola (de Biodanza) é necessário uma carta de motivação e o que escrevi foi: "Eu quero, posso e se me deixarem eu vou!" Acho que é a minha concepção de vida. Não estou a ver como é que eu poderia ser uma maratonista, por exemplo, ou uma desportista ou astronauta, na minha condição...mas não acho que isso seja um impedimento. Acho que há sempre uma solução, há mais impedimentos na mente! Eu gosto muito deste exemplo: estou cheia de fome e aquilo que acho que me vai saciar a fome tem de ser, obrigatoriamente, um arroz de marisco! Mas chego a casa e só tenho ovos, e então, como é? Tenho de mudar o meu foco, não pode ser um arroz de marisco mas pode ser uma omelete. Tudo aquilo que eu faço é para saciar uma fome interna, física, emocional... essa coisa da vontade, o que é? É uma fome, é uma vontade de comer, de ingerir, de trazer... e não tem de ser um prato gourmet! O importante é que eu fique saciada e isso acontece de muitas formas. Há que sair da limitação da competição, da comparação! São verdadeiramente tóxicas porque nos limitam ao máximo, pelo menos a mim, sim! Não gosto muito do "nós", porque pode haver outras pessoas que não pensam assim e a vida também rola de uma outra maneira... a vida é cheia de possibilidades e é infinita na sua abundância."

"Achas que foste educada para viver a tua vocação?"

"Acho que não quero refletir sobre isso! Humm... bom,  talvez sim. A conclusão é a de que todo o ambiente que eu tive, a minha infância e educação, me trouxeram até aqui. Pode não ser um percurso que sirva de receita para outros, mas para mim foi o ideal, foi aquilo que me trouxe aqui, então acho que sim, acho que a resposta é sim!"

"O que querias ser quando eras criança?"

"Não faço ideia! Muita coisa! Como todos, médica de crianças, era mais isso que aparecia nas minhas brincadeiras. Mas depois, na adolescência, ficou muito confuso. Nunca levei essa pergunta muito a sério, essa questão do que queria ser. Quando me candidatei à faculdade, queria ser estilista porque adorava roupa... e tudo isto nasceu porquê? Porque uma vez eu idealizei uns vestidos e uns meses depois vi-os concretizados num desfile na televisão. Achei que aquilo era um sinal e pensei: “Bem, eu devo ter vindo do futuro!” (risos) Enfim, eu sou muito imaginativa! E achei que aquela era a minha área, que era muito fixe e que deveria tentar. Mas o que era fixe não era desenhar, era ser criativa, era conhecer pessoas, era estar em movimento, era a arte... como não sabia desenhar e as escolas de estilismo eram caras, candidatei-me à Universidade do Minho em engenharia têxtil, achei que era a coisa mais próxima. Também porque queria sair de casa! Aquilo que mais me entusiasmou, durante esses 5 anos, foi morar numa residência universitária, onde havia muita gente e onde eu podia falar, conversar e ver em quê que as pessoas eram diferentes... era considerada a psicóloga da residência! Fizemos muita ação social, muita atividade, muitas brincadeiras, muitos eventos... eu e o meu grupo da residência, foi muito divertido! Acho que a minha grande vocação na vida é para tudo o que é divertido! Tem de ser tudo divertido!"

"Exerceste profissionalmente engenharia têxtil?"

"Não tive sucesso nenhum! (risos) Porque depois também veio a doença, o agravar da doença... essa é uma outra área, é uma área paralela na minha vida. Não me empatou nunca de viver. É como alguém que consegue viver e fazer o seu percurso, mas traz consigo uma pedra no sapato. A minha doença é apenas uma pedra no sapato que não me impossibilita de caminhar, mas que se calhar me impossibilita de correr e de subir escadas, de andar mas não de viver, nem de seguir os meus sonhos. Apenas me desafiou a buscar outras soluções. "

" Queres falar sobre a tua doença?"

"É uma distrofia muscular que tenho desde que nasci. Começou a manifestar-se de forma intensa aos 12 anos. A partir daí foi a decadência... há 8 anos que estou na cadeira e há 9 na Biodanza! A doença é como uma criança. Quando se é mãe nunca mais se deixa de ser, não é? Eu estou a tentar ver-me livre dela, mas a criança nunca mais cresce, ganha asas e vai voar para outro lado... mas vou conseguir! É como uma criança que desafia, que precisa de atenção, que limita o tempo, que limita todos os horários, fica tudo limitado por ela. Então, é preciso encontrar soluções, sem deixar de fazer aquilo que eu quero, mas dentro das condições possíveis. Eu não cheguei ao arroz de marisco, ainda estou nas omeletes! E pronto, está-se bem! Saciar a fome é o mais importante, porque é a base. A doença limitou-me na integração na sociedade porque temos uma sociedade preconceituosa, imatura, competitiva, egoísta, destrutiva, é uma sociedade muito doente. Não vou dizer que o mundo não tinha lugar para mim, nem faz sentido, mas é difícil... eu também não sou uma pessoa fácil, logo, fica ela por ela, estamos quites entre eu e o mundo! Mas a sociedade é muito preconceituosa perante tudo o que é diferente. A doença é um tabu enorme, muito mais profundo do que o dinheiro, o sexo, ou a morte. Sinto que a doença é vista como uma praga, algo horrível. Não que ela não seja feia, ela é! Mas há tendência para ampliar ainda mais essa característica, esse lado negativo..."

"O que dirias a outras pessoas sobre vocação?"

"Que cada pessoa possa seguir o seu coração, a sua vontade e o seu desejo! Sem medo de nada... não é sem medo, porque há sempre medo, mas com  coragem! Quando é para fazer uma coisa, 3 meses antes fico toda entusiasmada, mas depois quando chega o dia só penso em ter um acidente, ou ficar sem voz. Tudo para não fazer! E coragem não é não ter medo, coragem é ir com medo! É ir com o que se tem, é seguir o coração, seguir a vontade. Para mim é a coisa mais deliciosa que há, quando há aquela tendência, vocação é isso, não é? É um apaixonar, é essa inspiração divina...é ir! O resto é muito pessoal, cada um vai encontrar a hora, vai encontrar o seu ritmo, vai encontrar a sua forma. Uns são muito direitinhos, outros são muito caóticos, não há receita! Não é muito apaziguador, mas é muito livre!"

"Como achas que podes servir os outros, o mundo?"

" Percebi que isso não existe, é um verbo que não existe, o que existe é partilhar! As coisas são partilhadas como num piquenique. Eu falo disso muitas vezes na Biodanza. É uma partilha, é como um piquenique, eu levo aquilo que eu fiz com muito amor e carinho e coloco na mesa, se alguém quiser, é bom! Se ninguém quiser também é bom, volta para casa, tranquilo. É um verbo que eu retirei... esta coisa de ser útil ao outro... não tenho vontade nenhuma de mudar o mundo, acho que o mundo é fantástico, acho que o mundo é um paraíso! Adoro viver, adoro a minha existência e adoro as pessoas, adoro as árvores, adoro tudo... mas posso melhorar! Posso melhorar-me! Acho que o maior desperdício é aquilo que fica em mim e eu não partilho, porque acaba por apodrecer. Porque aquilo que está em mim, eu não consigo comer!"

Podem contactar a Guida através de gamaguida@hotmail.com ou no facebook  e experimentar como é partilhar a vida através da Biodanza!


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