Joanasobre vocação... "Vocação? Acho que é a partir da vocação que nós decidimos aquilo que somos, ou aquilo que vamos fazer. A vocação é um chamamento, é quase uma missão, é sentir que tenho uma missão no mundo, que tenho algo que posso oferecer a alguém. É a partir daí, dessa descoberta da vocação que nós decidimos grande parte daquilo que vamos fazer, porque o que vamos fazer é uma consequência daquilo que somos. É uma descoberta daquilo que somos para sabermos, depois, como é que vamos expressar isso ao mundo, o que é que vamos oferecer ao mundo! Eu associo muito a vocação à missão, no fundo, que temos aqui na Vida, na Terra, no Mundo..."
"E já sabes qual é a tua vocação?" "Bem, se calhar, a minha vocação é descobrir qual é a minha vocação! (risos) Eu acho que estou aqui um bocadinho à descoberta daquilo que eu sou, daquilo que eu gosto de fazer... depois, através das minhas experiências, quero poder levar ensinamentos, poder levar aquilo que eu aprendi, a outros...não sei se será essa a minha vocação...mas, pelo menos, aquilo que eu gostaria de descobrir nesta vida é como é que eu posso ser eu própria e como é que eu posso ser feliz... e como é que eu posso ajudar outros a descobrirem como é que vão ser felizes! Não sei se é essa a minha vocação, mas é o que eu gostaria de fazer..." "Em quê que isso se concretiza, o que estás a fazer? Conta um bocadinho do teu percurso..." " Eu acho que sempre gostei de ensinar! Acho que, agora, aquilo que eu ensino é um pouco diferente, mas sempre gostei de transmitir aquilo que aprendia. Quando era mais novinha, sempre que apanhava alguém em casa, um amigo ou um familiar, a primeira coisa que eu fazia, e talvez porque fosse uma coisa que eu gostava muito de fazer, que era fazer música, tocar piano, a primeira coisa que fazia era tentar levar a pessoa até ao piano e perguntar: ”Não queres aprender esta música?” Eu achava aquilo tão bom! Eu queria levar esse "bom" às pessoas. Eu achava que aquela pessoa ia ter imensa vontade, como eu, de aprender aquilo. No fundo, a primeira coisa que tinha tendência a ensinar, era aquilo que eu gostava de fazer, era aquilo que me trazia algum bem-estar, alguma felicidade. Segui o piano e acabei por me tornar professora de música. Na altura da faculdade, senti o "bichinho" de fazer algo mais com a música... no 9º ano, tive muita dificuldade, falando hoje sobre vocação, em descobrir o que é que eu gostaria de fazer, estava entre a música e a psicologia. E lembro-me que sofri com a pressão da sociedade. Acho que, para a sociedade, ter sucesso é ter um bom emprego e é ganhar um bom dinheiro! Sentia que havia algum desrespeito pela música. Tinha nível cinco a todas as disciplinas e sempre que eu falava na música, ouvia: "Mas tu tens tão boas notas, porque é que não vais para médica?” Eu não podia ver sangue à frente! Mas a ideia das pessoas é esta! Para mim, sucesso é ser feliz, é conseguir ser feliz nesta vida, isso é que é sucesso! É conseguir adaptar-me com aquilo que eu tenho, conseguir pôr uns óculos em que consigo ver tudo belo e sentir-me grata com o que tenho, isso é que é ser feliz e é ter sucesso! Mas acho que vamos fugindo disso..." "Foste educada para viver a tua vocação?" "Não, não! Não quero culpar os meus pais, nem dizer que eles não fizeram um ótimo trabalho, mas não, continuo a dizer: nós somos educados para ter sucesso e ter sucesso é ter dinheiro! E ter um bom emprego! Não somos educados para sermos felizes, para sabermos lidar com o nosso interior, para sabermos lidar com as nossas emoções. Isso não existe! Existe a parte, acho eu, só do conhecimento, conhecimento, conhecimento! Que depois se torna um conhecimento que muitas vezes cai num vazio...cai num vazio porque as pessoas têm o conhecimento, mas elas não sabem quem são, elas não sabem porque estão num determinado caminho, ou até numa determinada área na universidade, e porquê que estão. Não sabem se estão para não desagradar aos pais, ou por culpa... e tudo isso faz com que vão tomando opções que nada têm a ver com o seu coração, com o seu interior. Não somos realmente educados, a sociedade, a escola, não nos ajuda nisso. Os pais são pressionados, também, pela sociedade, para que os filhos tenham sucesso, e o sucesso vê-se em boas notas, não se vê na criança estar bem, comunicar bem , estar feliz, expressar-se...mas talvez isto mude! Talvez com a psicologia e com técnicas como a meditação, por exemplo, isto vá mudando e as pessoas comecem a perceber e a sentir que direção querem tomar...sem culpas, sem medos! Acho que é por aí..." "Algum episódio curioso ou marcante, na tua caminhada?" Um momento importante foi na universidade, quando tive contacto com uma disciplina chamada psicologia da música. Falaram, na altura, na musicoterapia e eu pensei: “Isso existe? Musicoterapia? Eu posso usar o som? Existe mesmo uma disciplina, algo cientifico, estudado, em que o som ajuda as pessoas? Há uma disciplina em que eu posso usar música e psicologia? E isso, tinha tudo a ver com a minha história. No final do meu curso, decidi procurar onde fazer musicoterapia. Achei o máximo, as duas coisas que eu sempre gostei, juntas numa mesma disciplina! Acabei por ir para o Rio de Janeiro fazer o meu curso de musicoterapia, aí foi outro momento de viragem...Em todo o meu percurso, até terminar a universidade, eu sentia que tinha que cumprir aquilo, que eu tinha que fazer um curso e que tinha de ser até ao fim! A partir daí, foi como se eu se eu sentisse uma certa liberdade! A partir daí pensei: “Pronto, agora eu sou livre, já fiz aquilo que era suposto!” Quando fiz o curso de musicoterapia, acho que foi aí, nesse momento, que eu percebi que nada tinha feito, ainda, para me conhecer. Na primeira aula do curso, a nossa coordenadora disse-nos: “Se vocês querem ser musicoterapeutas, vocês têm que entrar em terapia." Toda aquela viagem ao Rio de Janeiro, tudo aquilo que eu tive de ultrapassar, de descobrir... Eu não fui lá buscar só o conhecimento da musicoterapia, eu fui lá buscar o conhecimento de quem é que eu sou! Acho que aí eu mudei os óculos, pousei os que tinha e disse: "Ok, agora vou ver tudo de outra perspetiva...porque agora vou saber, no fundo, quem é que eu sou, o que é que eu quero, com liberdade!" O que te faz sentir realizada no que estás a fazer, agora? Sinto-me realizada quando ensino algo, ou transmito alguma coisa que tenha a ver com a minha experiência, com aquilo que eu aprendi. Faço essa transmissão, passo esse ensinamento, e sinto que isso vai ser como uma “luzinha ao fundo do túnel", na vida de uma pessoa, num determinado momento! Eu gosto de despertar, eu sou um bocadinho desafiadora...gosto de mexer com as pessoas. Gosto de provocar, desafiá-las: “Será que é mesmo assim? Será que tu gostas mesmo disto? Será que estás a fazer isto porque tu queres? Eu gosto de provocar isso, com todo o amor, para que a pessoa faça realmente escolhas conscientes e vá fundo no processo dela. Não sei se é exatamente a minha vocação, mas é onde me sinto realizada... a transmitir aquilo que me faz bem, transmitir aos outros, para ver se eles, também, querem decidir ser felizes!" "O que dirias a outras pessoas sobre vocação?" Eu diria, primeiro, para se conhecerem a eles mesmos, para fazerem retiros, meditação, qualquer técnica que funcione, para estarem em silêncio. Estar em silêncio e escutar qual é a voz interna, qual é o tal chamamento...Tem de haver esse silêncio, não é um desligar do mundo externo, mas sim uma aproximação daquilo que eu sinto realmente, para poder escolher, de forma mais consciente, qual é o caminho que eu quero seguir, acho que eu diria isso...E diria também para as pessoas não pensarem nas coisas como algo que é fixo, definitivo...as coisas vão mudando...Tulku Lobsang diz: “Sejam como a água”, a água é suave e fluída...ela vai vendo qual é o caminho...Sejam como a água e, sempre que vier alguma coisa para a nossa vida, não rejeitemos...se ela chegou, chegou por alguma razão...e tudo aquilo que tiver que ir embora, porque também nós, muitas vezes, somos apegados, queremos agarrar algo que já não faz falta, que já não é bom para nós...tudo aquilo que tiver que ir embora, deixar ir! Acho que isso é um bom princípio; não rejeitar nada daquilo que vem, ver o que eu posso fazer com isso. E aquilo que tiver de ir embora, deixar ir...para o novo entrar! Podem encontrar a Joana aqui!
2 Comentários
Sara Moreira
5/28/2014 09:40:21 am
Ao ler as tuas palavras identifiquei-me com muita coisa, mas acima de tudo deu mais força a um pensamento que ultimamente tem vindo a passear na minha cabeça: "sim, já tinha lido há anos atrás coisas destas, ideias e pensamentos e sentimentos destes.... lia, ouvia, entendia... fazia sentido, é lógico! «Ser feliz.... a Felicidade não é um destino, é uma viagem.... etc.etc.»
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Fátima Ramos
6/4/2014 04:44:22 am
Parabéns Joaninha por todo o teu progresso que tem sido fantástico! Que possas ajudar muitos a serem felizes! Um abracinho daqueles que tu sempre gostas! :)
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